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terça-feira, 15 de junho de 2010

Me enviaram essa matéria achei interessante.


Poliamor: um amor nada egoísta

A possibilidade de relacionamentos livres sob a ótica da psicoterapeuta Regina Navarro Lins
14/06/2010 19:11

Poliamor: você encara essa?
Suzana, 42 anos, arquiteta, foi casada três vezes e está separada há cinco anos. Sua última separação ocorreu quando ela percebeu que, além do marido, amava outro homem. Apesar de não desejar a separação, não teve outro jeito. O marido não aceitou essa situação. Tiveram sérias brigas e a ruptura não foi nada tranquila. A partir daí, Suzana decidiu mudar o padrão de sua vida amorosa. “Não quero mais saber de ter um único parceiro fixo e estável para tudo, e ter uma vida cheia de regras. Não estou mais disposta a me enquadrar em nada. Agora, me tornei adepta do poliamor. Acredito que, da mesma forma que amamos vários filhos e amigos, podemos ter relações amorosas/sexuais com várias pessoas ao mesmo tempo.”

Muitos se surpreendem com o relato acima. Entretanto, sabemos que o amor é uma construção social. Quando analisamos a sua história constatamos que os comportamentos amorosos e as expectativas em relação à própria vida a dois variam de época e lugar. Há enormes diferenças, por exemplo, entre o amor vivido na Grécia clássica, na Idade Média, no século XVIII e na atualidade.

A partir da primeira metade do século XX, temos sido regidos pelo mito do amor romântico. Este tipo de amor, calcado na idealização do outro e na ideia de fusão entre os amantes, na qual um só tem olhos para o outro, deixa de ser atraente. Está surgindo uma nova dimensão do amor, onde há mais troca e tentativa de um equilíbrio, sem sacrifícios. As fantasias do amor romântico se baseiam na dependência entre os amantes. Por essa razão, elas não conseguem mais satisfazer os anseios daqueles que pretendem se relacionar com seus parceiros como eles são e viver de forma mais independente.

Concordo com o psicanalista Jurandir Freire Costa quando diz que “o amor erótico não é apenas uma atração sexual acompanhada de sentimentos ternos — enlevo, carinho, preocupação, cuidado, dedicação, devoção etc.— ou violentos — desejos de posse exclusiva, ciúmes, desconfianças, rivalidades etc. Pensar no amor dessa maneira já faz parte do aprendizado amoroso, pois significa estar convencido de que ele foi sempre o que é hoje, ou seja, uma emoção sem memória e sem história.”

Acredito que a tendência seja o desejo de viver um amor baseado na amizade. Para isso são necessárias novas estratégias, novas táticas por meio de experiências nunca antes tentadas. O amor romântico começa a sair de cena, levando com ele a idealização do par amoroso, com a ideia dos dois se transformar num só e, consequentemente, a exigência de exclusividade. Com isso, abre-se a possibilidade de se amar e de se relacionar sexualmente com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. O poliamor deve ampliar, portanto, o espaço que ocupa na vida amorosa do mundo ocidental.

No poliamor as pessoas podem estabelecer relações íntimas, profundas e eventualmente duradouras com vários (as) parceiros (as) simultaneamente. Poliamor como movimento existe de um modo visível e organizado nos Estados Unidos nos últimos vinte anos, acompanhado de perto por movimentos na Alemanha e Reino Unido. Recentemente, a imprensa começou a cobrir abertamente quer o movimento poliamor em si, quer episódios que lhe são ligados. Em novembro de 2005 realizou-se a Primeira Conferência Internacional sobre Poliamor em Hamburgo, Alemanha.

Nesse tipo de amor uma pessoa pode amar seu parceiro fixo e amar também as pessoas com quem tem relacionamentos extraconjugais ou até mesmo ter relacionamentos amorosos múltiplos em que há sentimento de amor recíproco entre todas as partes envolvidas. Os poliamoristas argumentam que não se trata de procurar obsessivamente novas relações pelo fato de ter essa possibilidade sempre em aberto, mas sim de viver naturalmente tendo essa liberdade em mente. Para eles, o poliamor pressupõe uma total honestidade na relação. Não se trata de enganar nem magoar ninguém. Tem como princípio que todas as pessoas envolvidas estão a par da situação e se sentem confortáveis com ela. A idéia principal é admitir essa variedade de sentimentos que se desenvolvem em relação a várias pessoas, e que vão para além da mera relação sexual.

Nan Wise, uma psicoterapeuta americana que pratica o poliamor, reconhece que é preciso muita estabilidade emocional. Ela é casada com John Wise há 24 anos e os dois mantêm uma relação amorosa com outro casal, Júlio e Amy. Como muitas dessas relações, Nan tem com John sua “relação primária”, e com Júlio e Amy uma relação secundária, termos que servem para atribuir níveis de importância a quem participa de um mesmo grupo.

Embora a relação amorosa entre três ou mais pessoas permaneça à margem da sociedade, os que a praticam são cada vez mais visíveis ao compartilhar sua experiência. Diversos sites oferecem desde dicas para a relação entre poliamantes até músicas, ensaios, artigos de opinião, filmes e literatura de ficção sobre o assunto. A Polyamory Society é uma organização sem fins lucrativos que promove e apóia os interesses de indivíduos com relacionamentos ou famílias múltiplas.

Para a escritora americana Barbara Foster, que estuda o poliamor e o pratica com seu marido há mais de 20 anos, se trata de um movimento social muito importante e que está na moda. Os poliamoristas advertem que essa prática amorosa é uma escolha, assim como é a monogamia, e traz consigo tantos ou mais desafios. Ela definitivamente não é uma solução para um mau casamento ou outros problemas de relacionamento.

Naturalmente, ninguém chega ao poliamor de uma hora para outra, isto é resultado de um longo processo de desenvolvimento pessoal, do qual, por enquanto, poucos são capazes. É necessária toda uma revisão de conceitos, de condicionamentos culturais e emocionais, para ver as coisas a partir de outro paradigma. Entretanto, os poliamoristas também sustentam o direito de qualquer um optar pela monogamia como escolha de vida e acreditam que essa seja a escolha certa para muitas pessoas.

A psicóloga americana Deborah Anapol, autora do livro Polyamory: The New Love Without Limits diz: "Nossa cultura coloca tanta ênfase na monogamia de modo que poucas pessoas se dão conta de que podem decidir sobre quantos parceiros amorosos/sexuais desejam ter. Ainda mais difícil de aceitar é a ideia de que uma relação de múltiplos parceiros possa ser estável, responsável, consensual, enriquecedora e duradoura. Poliamor não é sinônimo de promiscuidade".

É importante ressaltar que o poliamor não é a única forma satisfatória de relacionamento amoroso. Cada pessoa deve ter o direito de escolher a que mais se adapta às suas necessidades e características de personalidade. Mário Polly, um adepto dessa prática, diz que “provavelmente, muitos anos irão passar ainda até que o poliamor seja uma forma de relacionamento universalmente aceita e praticada sem barreiras legais e preconceitos sociais. As pessoas que estão praticando o poliamor atualmente são como desbravadores de um novo continente, abrindo caminhos para chegar onde nenhum homem jamais esteve e tornar realidade a utopia de que novas formas de relacionamento são possíveis como alternativa à antiga ditadura da monogamia compulsória”.

Um comentário:

Unknown disse...

Não penso que importe o modelo de amor, importam os amantes. Seu jeito de amar te faz feliz e faz feliz ao seu parceiro também? Ótimo! Não faz? Procure outro parceiro. Preocupam-se muito com o modelo e pouco com os amantes. Os conflitos amorosos não desaparecerão simplesmente se mudando o modelo amoroso. É o que penso!
Também não acho que ter mais de um parceiro amoroso/sexual vá resolver os conflitos. Não é quantidade, é qualidade. Mas, cada um é livre para amar como desejar e se sentir bem.