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terça-feira, 31 de março de 2009

Diário: Banheiro Fantasticamente Fabuloso!


DIÁRIO: BANHEIRO FANTÁSTICO...

Era lá no banheiro onde eu conseguia desvendar cada parte do que eu sou. Quando eu era pequena o banheiro era o meu melhor amigo. Eu transportava o meu mundo todo para lá. Era aquele espaço; amigo-quarto-baú, pedaços do meu corpo.
Naquele lugar eu descobria o meu mundo a cada momento em que ele se renovava...
Eu lembro, quando foi à primeira vez que eu olhei para o objeto mais intrigante e provocador que me atraia; A PRIVADA. Foi como imã que ela me puxou. Imaginei sua quina, sua beirada...Pensei que ela poderia me proporcionar prazeres encantadores...Não sei como foi esse encontro...Eu e a privada...Sei que aos pouquinhos fui agachando o meu corpinho pequeno, sete anos, enganchando o meu sexo à beirada...Lembro que comecei a balançar...Era como um brinquedo, um balança-balança...Acho que tinha a mistura de algo delicioso e ao mesmo tempo podre...Onde, talvez, eu misturasse tudo...
O gozo...Mijo...A descarga...Descarregar...Descarregando tudo...
A quina era dura e doía um pouco, mas, passava...Passava...Isso acontecia repetidas vezes...Fiquei viciada pela privada...Lembro, também, de quando eu terminava, eu me sentia tão abominável que eu rezava, apesar de nunca ter sido católica devota...Mas, eu rezava...Quando eu abria a porta do banheiro fantástico....Encarava a casa...Saia do mundo da magia podre e lúdica dos meus segredos... E reinava diferente no mundo real...Fiz do banheiro fantástico, meu fiel escudeiro...Cheio de possibilidades inusitadas na minha triste-alegre cabecinha...
Descobri no banheiro... Uma das casas mais fabulosas da Barbie...Era fantástico...!!
Digo isso porque quando eu era menor que sete ou quase sete anos...Eu tinha o sonho de ter a coleção inteira da Barbie...De ter um casarão da Barbie...Mas, era tudo muito caro...Meus pais não tinham condições...Pedia para o meu pai e ele dizia; “Filha porque não escreve para Silvio Santos, o programa“Porta da Esperança” e pede a coleção inteira?” Eu ficava horas imaginando duas cenas: Eu lá em Silvio Santos numa expectativa tremenda esperando...A porta se abrindo...Ele lendo minha cartinha... a porta se abrindo...Aquela coisa toda...Aiiiiii!!!!A coleção TODA da Barbie...!!!Ou...A versão mais pessimista...A porta se abrindo e Silvio Santos fazendo: OOOOOOOOOOOOh!! Seria uma decepção...!!
Acho que eu não arriscava meus sonhos por medo da decepção...
Então...O banheiro me entendia...
Ele virou meu casarão da Barbie...! Lembro da arquitetura montada por mim: O chuveiro era uma cachoeira enorme, dentro da casa fechada por vidros maravilhosos...Lembro que a pia era uma banheira- piscina...Eu colocava shampoo bastante...Isso era um horror porque minha mãe não entendia como o Shampoo acabava tão rápido...Ela reclamava... Eu silenciava...Ela não entendia a profundidade...A Barbie precisava daquela piscina-banheira...! Os armários do banheiro...Eram salas de televisão, eu tirava tudo que tinha dentro...Eu pegava as toalhas e fazia de sofá...Ficavam lindos e aconchegantes super...Os quartos eram no chão...Era dividido...Tinha o quarto da Barbie e do Bob e tinha o quarto dos filhos; Eles tinham seis filhos. Era engraçado porque os filhos eram bem diferentes...Era um casal da “Família Coração” da Barbie mesmo, eram os caçulas, e tinham os irmãos...Uma Chuquinha, Umas gêmeas, eram duas bonequinhas de cabelos bem pretos, espanholas que eu e a minha irmã havíamos ganhado... E tinha o menino...Era o agarradinho...Eu era louca por ele...Ele era horroroso e eu o achava lindo...Lembro o nome dele: João Daniel...! Coloque esse nome porque fiquei um tempo fã de uma cantora que o seu filho se chamava João Daniel...Então, tive que colocar o nome do meu agarradinho João Daniel...!
As brincadeiras se revezavam no banheiro...Eu tinha um palhaço, tão lindinho e monstruoso, ele tinha duas caras o safado...O nome dele era Brinca-Bronca, veio com esse nome...O nariz desse palhaço...Fazia-me cócegas...
No banheiro eu fui crescendo...O tempo ia passando...Era lá onde eu chorava também...Era lá onde eu fazia os meus dramas reais e imaginários...Lembro, eu chorando, me olhando no espelho para ver como era o meu choro...Lembro, quando eu brigava com minha irmã...Eu entrava lá correndo, trancava a porta e depois eu dava um grito enooooooooooormeeeee de pavor para ela achar que eu me matei...Eu lembro, ela gritando...Batendo na porta...Eu sofria por dois motivos: Um se fosse verdade...Que coisa horrível...!E dois, porque minha irmã ficava desesperada...Isso era tão rápido, que a porta do banheiro abria-se logo. Eu era a maior fã da minha irmã...Talvez, eu fizesse isso para chamá-la atenção quando a gente brigava...(Um parêntese para falar de minha irmã) Quando a gente era pequena eu era uma criança que não gostava de um monte de coisas...Tinha umas coisas que eu achava lindo gostar, mas, a porcaria do meu paladar não gostava...Minha irmã comia goiabada com queijo...Eu detestava...Mas, era tão lindo vê-la comer...Aí eu comia, mesmo detestando, só para ficar igual! Tinha água de coco que ela tomava, eu não gostava...Mas, fazia de tudo para beber...O pior de tudo era que a minha irmã me revelava sempre para mim mesma: “Você não gosta de goiabada com queijo e nem de água de coco, só faz isso para me imitar...” Eu sofria.
Minhas outras lembranças do banheiro, essas eram as partes suicidas...Quando eu brigava com meus irmãos ou meus pais...Eu entrava no banheiro e fazia uma carta de despedida de suicídio...Era sempre assim que começava: “Me matei porque não pude resisti a tal agressão...” Mas, no final da carta era tão triste imaginar meus pais e meus irmãos sofrendo, eu no caixão, eu sofria tanto...Chorava tanto, que logo em seguida eu os perdoava...Porque imaginava esse acontecimento...Aí, não queria nada disso...Saia do banheiro...Eles estranhavam...Meus olhos inchados, mas, eu os abraçava com saudade da possível tragédia e já estava tudo bem e perdoado no meu coração...!
O Banheiro era também meu lugar de danças e paixões...Eu tinha uma amiga que sempre ia ao banheiro comigo....Ela se requebrava toda...Eu colocava um som...Música... E ficava a vendo dançar...Sentava na latrina, era a platéia...! Um dia, essa menina dançou tanto, jogando suas pernas finas para um lado e para outro...De tanto dançar como uma gazela doida...Ela jogou sua perna no porta papel-higiênico e quebrou o porta-papel...Tive que assumi a culpa que não era minha...Ela ficou sem jeito...Minha mãe desconfiou de algo a mais...Mas... Nada a revelar, éramos amigas APENAS de requebrados dançantes...
O banheiro e a privada já me traíram uma vez...Fiquei bem magoada...Eu tinha seis anos, vontade de fazer xixi, pronta para escola...Corri. O corredor estava molhado, não tinha visto...Escorreguei...Eu estava com um copo de vidro na mão...Minha cabeça foi para a fechadura...Quebrou: A cabeça; O copo bateu no chão...Bateu na privada e não quebrou...Minha cabeça quebrou...
Fiquei magoada com o banheiro...Mas, passou...Passou...Passou...
Meus doze anos...Fiquei menstruada....Foi estranho...Esse dia eu estava na casa de minha melhor amiguinha, naquela época, brincando de Barbie...Cheguei em casa...Minha irmã estava tomando banho, fui fazer xixi...Aí...Uma coisa marrom em minha calcinha...Olhei, observei...Perguntei a minha irmã “você sabe se eu fiz cocô hoje?” Ela me respondeu rindo e com impaciência: “Como eu vou saber até do seu cocô...?? ” Cheirei a calcinha...Não tinha cheiro de cocô...Fiz a retrospectiva do meu dia...Aí falei.... “Tem uma coisa estranha marrom na minha calcinha...” Ela gritou com felicidade estranha. Figura estranha minha irmã nessa comemoração: ”Está menstruadaaaaaaaa...!!!” Tomei um susto!!Fiquei feliz e triste ao mesmo tempo...Estava virando uma mulher e não queria e queria...Meu primeiro pensamento foi: “Como uma mulher brinca de bonecas, de Barbie?” Pânico total!! Eu era VI-CI-A-DA nas Barbies, na quina da latrina, no palhaço Brinca-Bronca...Que complicação...Lembro de mim conversando com minha melhor amiguinha, dizendo a ela que eu já era uma mulher e brincar de bonecas eu não tinha mais vontade...Triste...Porque era mentira...Eu cortei relação com as minhas Barbies sem nem ao menos ter me despedido delas...Triste...Triste...
Lembro das revelações CHO-CAN-TES no banheiro...Era época de Natal...Eu estava muito ansiosa para a chegada do meu presente...Descobri uma revelação que abalou o meu mundo...PAPAI NOEL NÃO EXISTIA...Chorei, corri para o banheiro, minha irmã ouviu, era um choro de dor, de traição...Ela correu, abri a porta...Falei: “PAPAI NOEL NÃO EXITE, VOCÊ SABIA????” Ela tentou disfarçar...Me chateei porque nesse momento vi a cara dela de mentira...Ai pedi a verdade...Lembro a voz que ecoou em mim...”É ISSO, PAPAI NOEL NÃO EXISTE....” “NÃOOOOOOOOOOOOOO!!”. Chorei muito, mas, superei a bomba.
Outra revelação, terrivelmente, essa libidinosa...Meu irmão...Lembro, ele deveria ter uns 16 anos...Na escola ele tinha uma namoradinha...Minhas amigas falavam...”Seu irmão deve transar com a namorada dele MUITO”. Eu achava aquilo um absurdo, eu tinha plena convicção da virgindade do meu irmão...Tinha plena convicção da certeza das suas palavras...Ele dizia para minha mãe que ia ao cinema...Claro que eu achava que ele ia...Essas acusações da virgindade do meu irmão duraram e me perturbaram por um tempo...As minhas amigas até criaram apelido para ele, para mim, claro, “Virgilio”...Eu sofria. Resolvi esclarecer essa dúvida...Sempre com a minha irmã, a que me revelava tudo....Chamei ela no banheiro e baixinho perguntei: ”Ele é virgem não é??”. Ela rindo falou: “Claro que não, boba...” Sofri, mas, tive que aceitar aquela mentira do meu irmão. Fiquei dias olhando para ele diferente...Mas, passou.
O banheiro...Uma passagem para o mundo do circo, do teatro, da dança...O banheiro, Uma passagem para perdas...O banheiro uma passagem para remodelar o mundo...
Quando a arte entrou em minha vida e eu entrei na arte... Tinham umas pessoas que eu admirava de formas diferenciadas...Essas pessoas viraram amigos-amigas, casos-fieis imaginários na minha história...Essas pessoas existiam...Mas, eu nem me aproximava muito delas, era fabuloso tê-las de mentirinha no banheiro do meu teatro ou no teatro do meu banheiro...Tinha uma menina que era especial...Duas contas azuis nos olhos...Eu a beijava sempre...Tinha um menino, que eu adorava imaginar a gente tendo um caso super complicado, o nome dele imaginário era: Totila. Ele tinha cara desse nome, mas pena, não se chamava assim. Eu lembro das festas imaginárias que eu fazia no banheiro...Essa menina de olho azul sempre estava...Tinham outras figuras também...Eram festas louquíssimas...Todo mundo ficava com todo mundo...Um som alto...Mas, o que acontecia sempre em seguida a festa imaginária do cabide...Minha mãe...Batia na porta e dizia “Está alto o som” Me enraivava...Porque aí o mundo fantástico caia na real...
Parte da remodelação visceral: O banheiro foi meu companheiro fiel quando perdi uma coisa tão linda-anjo em minha vida. O banheiro segurou a minha dor...Foi nessa virada...O peito em sangue.... Que o banheiro me soprou o mergulho para o mundo...Foi depois da perda do Anjo...Ele era o meu guardião de belezas puras na vida. Nessas virada, o banheiro me falou: ”Corre para o teatro, corre para o circo, corre para a dança...” Aí corri para TUDO atirando... O Banheiro Chorou comigo me dando colo sempre... Chorou comigo uma menina especial que tinha por apelido Minhoquinha...Ela era a Minhoquinha mais linda e pura que desistiu de viver... Ela me deixou a palavra ENCANTO em tudo...Também, chorei por um menino que requebrava como ninguém....Chorei um tio, chorei uma tia, chorei outra tia, chorei meu Dindo, chorei...Mas, o banheiro me dizia que a vida se remodelava...
REMODELEI.
Foi aí que virei...Me remodelando...
Lembro do banheiro eu ensaiando peças, lembro do banheiro me soprando meus desejos dúbios: “João ou Maria ? ” ...Lembro no banheiro minha virada para ser mulher...Meu cabelo, minha cara mudando, pessoas que não existiam entrando, dor do novo.... Outras saindo, dor do velho...Lembro, no banheiro o vômito, o choro, o amadurecimento, os cortes, as descobertas, a vida, o íntimo, inusitado... Lembro no banheiro eu pulando... Um novo ar entrando, uma brisa...Meu corpo se transformando, minha pele esbranquiçando, meu cabelo mudando...O mundo se remodelando...Eu sendo “certa”, ambígua, arte, brisa na cara, eu sendo sempre com ele...Livre...
Foi lá no banheiro que encontrei a chave para tudo...No banheiro fabuloso dos meus sonhos secretos...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Uma Casinha Dentro do Vazio

"Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande... Seria tão bom, como já foi"(Adélia Prado)

“ UMA CASINHA DENTRO DO VAZIO “


Era uma casinha de madeira.O queimor do sol esquentava o volante do meu carro. A casinha pequena de madeira ficava dentro de um vazio. A estrada estava pouco movimentada. A tarde o sol queimava o meu rosto dentro do carro.
Eu ali sentado fitava no cantinho da estrada o rostinho da menina de vestido rasgado. Ela era ruiva , seu cabelo misturava-se com a claridade do sol, seu rostinho era avermelhado. Ela destoava da imagem da casinha no meio do nada. A menina de vestido rasgado tinha um olhar curioso.
Eu estava a mais de uma hora parado esperando o socorro do guincho que havia me prometido chegar em 30 minutos no máximo.O sol queimava o meu relógio marcando o tempo que eu olhava a menininha do vestido rasgado, o tempo parecia correr sem demora.
A menininha estava sentada, parecia um improviso de cadeira, uma tábua em cima de um monte de tijolos. Ela segurava entre os seus braços uma boneca de plástico velha. O vestido da boneca era de noiva.
O meu celular , graças á Deus, estava dando linha normalmente :"Essas operadoras não servem para nada”. A menininha abraçava a sua bonequinha vestida de noiva , beijando-a inúmeras vezes. Ela sussurrava baixinho. Eu não conseguia ouvir o que ela queria dizer para a bonequinha.
Meu celular tocou pela quarta vez. Era o guincho me avisando que dentro de 5 minutos eles chegariam com o socorro. Meu carro estava apenas com um pneu de socorro. Eu vinha a 120km/h , estava atrasado para a reunião do meu trabalho. Eu já á quase duas horas esperando o guincho que não chegava comecei a senti uma sede insuportável. A única coisa que me fazia não mandar o guincho se fuder era a menininha do vestido rasgado e também a necessidade que eu tinha deles.
Meu carro estourou o pneu num buraco ,”Isso não é nem mais um buraco..uma cratera”.”Não sei o que o governo faz com o dinheiro...As estradas todas esburacadas...”.
Meu celular tocou, era o meu chefe.A menininha não havia me percebido. Sua casinha ficava com pouca visibilidade. De cima para baixo. A casa ficava num montinho de barro. Não era tão alto. Eu estava num cantinho da estrada. A menininha não tirava o olho da bonequinha vestida de noiva .
O telefone tocou. Eram 17:30.O sol daqui a pouquinho iria embora.No telefone meu chefe já veio com aquela voz chata me cobrando uma presença, que eu não tinha o que fazer. Não gostava do meu chefe. Ele gostava de me chacualhar, acho que era porque ele era gordo e mal casado. Meu chefe gostava de falar que homem de corpo malhado era coisa de veado. Acho que era inveja.
O telefono tocou era o guincho. Eles disseram que já estavam a caminho..."Que cara de pau...quer dizer que antes eles nem haviam se mobilizado”.
O sol começou a diminuir. Eram 17:50, embrei que eu tinha uma garrafa de água na mala do carro.
A menininha que estava sentada o tempo todo levantou-se e começou a dançar e a rodar. Ela sorria e gargalhava alto.
O guincho chegou na mesma hora que o meu celular tocou E A MENININHA ME VIU.
Eram 18:40.Uma única labareda iluminava a menininha que agora me fitava. Desliguei meu celular. Mandei o guincho se fuder, coloquei meu pé no acelerador lentamente e fui me afastando da casinha de madeira no meio do nada. Ela deu um adeus e gritou com uma voz grossa e rouca:"VOLTE PARA CASAR UM DIA COMIGO”. Eu nunca mais esqueci a menininha do vestido rasgado.
Voltei para casa. Abri uma cerveja gelada e comecei a dançar e a cantar a música que a menininha do vestido rasgado havia entoado.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Flores...

"MINHA ORQUÍDEA!"



Flores...
Sentindo os cheiro de aromas... Resolvi entregar flores para...
Um rapaz forte, feliz e passageiro, como pássaro, entreguei para ele a flor Clematite...Nela eu via a beleza espiritual que eu absorvia de todo aquele amor eterno...Colhendo outra flor, procurei para uma moça que me guardou em nove meses no seu ventre, linda, amiga e companheira... Entreguei para ela o amor verdadeiro... Era uma flor Miosótis (não-me-esqueças)...Cheiro a todo instante essa flor, para reconfortar minha alma...! Colhi em mais jardins, outros, para dois amores perfeitos, eram almas de escorpiãos não venenosos...Eram nascidos da mesma barriga que eu havia nascido, compartilhávamos as flores Clematite e Miosótis, a vida toda sempre, ofereci para o menino a flor de Prímula era à flor da juventude...Eu o via sempre menino, mesmo sendo homem formado e forte...Entreguei para a menina uma rosa esse era um amor sossegado, o amor que se instala cheirando cheiro de transformações juntas sempre...Colhi mais flores...Entreguei para quatro pequenos pimpolhos que se instalaram fortemente no meu coração...Colhi, quatro, Nenúfar, uma pureza de coração e coloquei no jarro florescendo sorrindo...Coloquei essas flores no meu jardim eterno... Elas por graças nasceram no meu jardim biológico...Busquei mais flores...Essas por escolha quis cheirar e tocar...Peguei uma flor de orquídea, uma bela dama, dei a ela, porque era esguia, branda e guardava todos os cheiros meus, porque eu queria muito que ela guardasse com cuidado quando eu não podia cuidar...Ela cuidava...Colhi, também, uma flor de harmonia, Flox, era isso que eu pretendia com uma moça de olhos de piscina azul, ela era o meu lado mais voraz...Um leão...Colhi flores para uma flor exagerada, desmantelada no amor... Entreguei-a um jasmim com graça e elegância...Talvez porque naquele desmantelamento, eu só visse amor pulsante de graça...Entreguei flores para uma menina que vivia na terra e que pegou a minha mão me mostrando a beleza de ser terrena...Entreguei a ela um lírio porque eu sentia algo puro e terno por ela...Colhi um buquê de flores para umas moças... Duas moças libra, uma moça aquário e uma moça escorpião...Porque elas eram histórias de adolescências contadas e engraçadas de vida... Entreguei para elas a minha sensibilidade sempre Centáurea...Elas cheiram até sempre...Porque exala forte...Colhi flores atrapalhadas... Genciana uma flor injusta ela me espetou sempre...Mas, eu cuidava da flor de forma trazendo os meus espinhos iguais... Não queria mostrá-los...Doía...Hoje eu purifico a flor...Para torná-la um dia justa...Subia um cheiro de atração dessa flor...Colhi, também, um jacinto era uma flor de mágoas...Tentei regá-la, mas, por eu ter derramado água demais nessa flor...Aguou e desandou... Ficou feia...Tento cuidar dela para sair um dia flores de lembranças leves...Colhi uma flor para uma paixão de sonho, uma vontade voraz de vivê-lo sempre...Uma flor de Hera, uma flor linda de fidelidade, para que eu nunca mais o esquecesse por causa de flores outras...Peguei uma flor de extravagância fantástica, Papoula, senti um cheiro de amizade sorridente, só não sei se ela entendeu...Colhi um oráculo, Dente-de-Leão...Queria ver o que se passava no cheiro daquela flor que eu não conseguia tocar...Vontade de prever o futuro com a flor no meu jardim....Recolhi no jardim das minhas idéias outras flores tantas...Peguei uma coroa imperial, ela exalava majestade e poder, me inspirava vendo sua realeza...Peguei uma flor branda de índole meiga, era uma Madressilva...Ofereci para um menino calmo e não calmo que me fez olhar o mundo diferente...Colhi para guardar para mim flores de íris, mensagens boas, Lilás, primeiras emoções do amor, Campainha, flor de perseverança e Malva-rosa, Ambição feminina, com uma dose de Violeta, modéstia...Estava com minhas mãos recheadas de flores...Peguei uma tigela cristalina, coloquei alfazema e me banhei toda dessas flores até renascer florescendo...
"Não importa o que se ama. Importa a matéria desse amor. As sucessivas camadas de vida que se atiram para dentro desse amor. As palavras são só um princípio - nem sequer o princípio. Porque no amor os princípios, os meios, os fins são apenas fragmentos de uma história que continua para lá dela, antes e depois do sangue breve de uma vida. Tudo serve a essa obsessão de verdade a que chamamos amor. O sujo, a luz, o áspero, o macio, a falha, a persistência"
(Inês Pedrosa)

E Foi Porque Eu Cismei de Querer você que Você Apareceu

CONTO LIDO NO TOM DO SABER POR: Olga Lamas, Rita Aquino e Sandra Simões!












E foi porque eu cismei de querer você que você apareceu...!
Nesse mundo doido onde se encontra tantas “quereranças”, querências, quereres... Quero, queria, quererei, queremos, queres, quereis, querem....
Eu quero.... Escrever uma história...
Uma nova história!
Digo nova porque eu tenho hábitos de brincar de ser escritora visionaria biônica da vida...Eu tenho força malandra brincante do jogo da vida. Escrevo histórias antes contadas em contos, e que depois são narradas em cantos...Mas, não é canto de cantidão, cantiga, “cantura” de música... É canto de canto de rua, canto de beco, canto de boca....De gente que não sabe contar outros contos...Também, culpada sou eu, esqueci de avisar que os cantos, digo, os contos mudaram para outros cantos...Contos..
Então, para que eu ou essa gente conte outro conto em outros cantos inventarei a minha mais nova história...Porque sei que o que escrevo é matéria boa de que acontece...
Peço licença para esse mundo vasto de tantas “quereranças” nos cantos e começo o meu mais novo conto:
Resolvi começar o conto assim...
Resolvi porque tinha uma menina branca de risada vibrante cabelo pequeno e corpo macio me irritando...
Era uma vez uma menina que me irritava com ternura...Ela entrou nas “quereranças” dos quereres tantos... Assim ??????????????.
Eu tinha um cabelo alongado que cobria o meu rosto, eu acho que o deixava assim, porque tinha medo de deixá-lo nu... Medo ou pudor? ...A nudez do rosto aberto é a mais obscena, causa gozo voluptuoso quando se penetram os olhos...
Encurtei o cabelo, desnudei-me, resolvi enxergar...
O cabelo longo cobria meu rosto e também me atrapalhava de andar...
Meu corpo estava duro, Porque o cabelo alongado que cobria os meus olhos não enxergava a dureza do corpo...E como conseqüência do encurtamento do cabelo, vi o meu corpo...E resolvi amolecer..
Meu corpo foi ficando impudico, afeminado, libertino... Uma afobação... ...Eu era corpo afobado e cabelo encurtado... Desnudada....
Olhei-me no espelho...
E foi porque eu cismei de querer você que você apareceu....
Não sei se a inventei, mas, que menina branca, corpo macio, sorriso vibrante... Existe e é real existe..
No espelho...Eu via a menina branca irritadamente... Com ternura ela me entrava...Eu via cabelos encurtado, cara branca e corpo mole audaciosamente entrando...Não sei se era a minha imagem, ou se era a menina que irritava...Mas, o fato contado nesse conto para contarem nos cantos existiu assim:
Um dia o mundo virou de cabeça para baixo, como eu gosto de plantar bananeira, acrobacia atrai o meu corpo, consegui me salvar da nova geografia em que o mundo se configurava...O meu cabelo como havia também se encurtado não cobriu o meu olho na hora de ficar de cabeça para baixo... A sensação era diferente, uma liberdade equilibrista! Eu era a maior acrobata da nova ordem do mundo crescido...!!!
Eu via um monte de gente caindo como um temporal, via casas também caindo...Tudo isso porque as casas, as pessoas não tinham aprendido que de repente o mundo cansa de ficar em uma só posição... Cansa... Então eu como nunca fui boba, tratei sempre de me preparar acrobaticamente...Para essa nova geografia mundial...Intuição? Sensação? Vontade? Não sei...Só sei que nessa hora...Consegui colocar toda a malandragem do corpo mole, numa firmeza equilibrista...
Eu lembro que na hora da virada do mundo, uma menina branca de corpo mole e sorriso vibrante, com travessura encantada segurou as minhas pernas e fizemos bases de rolamentos acrobáticos incríveis...Eu rolava e ela me segurava, ela rolava e eu a segurava...Toda essa giratória era acompanhada da sua alegre risada que alisava o meu peito...Eu acelerava na acrobacia e ela sorria branco dizendo: você é rápida....Eu acelerava na acrobacia e ela dizia: Eu gosto de observar os movimentos de cada corpo...Eu acelerava mais ainda na acrobacia e ela dizia: Agora eu seguro em sua cabeça e você segura o meu braço...POOOOOOOOOOOOOOOWWW!!!Parei, digo, paramos de dar cambalhotas acrobáticas...Risos vibrantes brancos moles!!!
E o mundo se configurou em sua nova ordem...!!!
Nos olhamos...Os cabelos curtos estampados nas caras brancas, os corpos moles entranhados nas acrobacias da vida, e os olhos...Os olhos...Os olhos...Tinham cores de pupilas dilatadas...Talvez fosse porque, quando se desperta por um encanto, a cor visionária (visão) ficam cores dilatadas...As pupilas eram cores misturadas, nuas e leves...Olhei, fui olhada, me olharam...Estava na nudez de cara....De cara...Cara....Risos...Parei...Paramos...
Como é o seu nome?
Éééééé...éééééé....Começa ou termina com Tá...Com o Tá????...Começa ou termina?
Depende....!! Mas, é só TÁ? Coloque também, i ou a ou a ou i...Mas, o a ou i e o i ou a, qual seria a ordem?Depende da posição em que vamos nos configurar na geografia novo mundo...Sorrisos vibrantes aparecem...!!!
Então eu posso te chamar de TÁ ou i ou a ou a ou i...Na ordem que eu quiser...SIMMM, sua boba...
Eu lembro que nas “quereranças” dos quereres tantos, por que quereres são tantos eu olhei a menina e a quis um pouquinho ou toda dentro de mim...Toda e um pouquinho...Toda por que é minha e um pouquinho por que é dela ela...Juntei pertinho, pertinho..E sem avisar nada dei uma pirueta num sobressalto, ela no mesmo momento, deu várias bem grandes...Foi aí na pirueta que eu senti um gosto doce novo de línguas que se prendiam...Eram línguas que se prendiam, mas se desenrolavam nas levezas das piruetas...
No mundo com sua nova geografia...Eu vi a gente que conta meus contos em cantos...Embaralharem-se como cartas porque não sabiam fazer acrobacias...Risos...E como eu tinha dito antes, sou uma escritora visionária biônica da vida...
Resolvi pegar as cartas... Talvez para ler...Já que tenho o dom...Risos brancos no meu peito agora....Eu recolhi-as com jogo de cartas...Distribui um montinho para mim e para....O nome dela, ela...Tá no inicio ou no fim...?.Cartas, gente cartas...E abri um jogo de escritora visionaria e comecei a ler as cartas das gentes...Li, reli...Quanta confusão...Embaralhei...As moças de caras brancas repartiram montes de cartas gentes... Ai eu comecei a ler...
Ela que me irritava com ternura me parou e disse: por que não escreve um conto em vez de ler as cartas montes gentes...Os contos são bem mais atraentes....
E foi Porque eu Cismei de Querer Você que você apareceu....
Eu estou já escrevendo um conto, para ser contada nos cantos, mas não é canto de cantura, de cantiga...É canto de canto de rua, canto de boca de gente...Certo....?Larguei as gentes cartas, os montinhos, tirei da mão da menina que me irritava e comecei a ler o meu mais novo conto...
Olha, meus contos é matéria boa de que acontece...A gente pode agora falar para essa gente que os contos mudaram ...
E o conto começa assim: E foi porque eu cismei de querer você que você apareceu...
O final é assim: Eu entro na lona circo do mundo, subo na cama elástica, dou piruetas, vou para a corda bamba, depois arrisco no trapézio, ando de monociclo, faço contorcionismo com o corpo mole, me seguro na corda, equilibro objetos...eto...jetos...Eles já estão sendo equilibrados...ados...Olho para o palhaço, gargalho da sua risada, desconfio do coelho do mágico, cuspo fogo de desejos, atiro facas, sou bailarina...E você dança....
Pode ser contos cantados em cantos, certo...?
Dancei contado, digo cantando, novos contos...
IRRITADAMENTE COM TERNURA ELA ME ENTROU...

Yemanja e Oxossi

Yemanja e Oxossi

Eu estava sentada e os meus pés não alcançavam o chão. Absorta em meus pensamentos escutava o mistério da ocasião. O céu permanecia repleto de sol, do alto eu avistava o braço do mar carregando barquinhos recheados de flores avivadas que se tornavam pequenos pela distância do terraço. Saborear a beirada do abismo é de um encanto intenso. As polpas das minhas nádegas encostavam-se no cimento abrasador do lajedo envelhecido daquele prédio, experimentando um quentinho protetor. Eu ficava agitando minha razão achincalhando a brisa aguda que desordenava o meu cabelo, desorganizando minhas idéias. O terraço daquele edifício inflamava o sigilo particular de um afeto adocicado, alojado por ocorrências desastrosas. Ela usava uma sapatilha colorida. Sentou-se ao meu lado, não éramos amigas por um limite tênue, quem sabe, desconhecimento das possibilidades. Meus pés abandonados á ausência de um plano, balançavam-se embalando canção sincera. Ficamos contemplando aquela vastidão de oceano. A menina que usava uma sapatilha colorida ajeitava-se desordenadamente segurando seus cabelos que eram embaralhados pela ventania. O segredo reprimido daquela provável afeição abafava as demonstrações soltas. O ar fogoso brincava com os nossos cabelos. Era faceto assisti aquela liberdade de ternura sincera por um acanhado segundo. O sol estava alentado. O braço da maré que abrigava os barquinhos abriu-se fazendo os pequeninos nadarem entregando as oferendas que carregavam para a rainha do mar. Era dois de fevereiro. Permanecemos sentadas envolvidas do terraço, do mar e dos barquinhos. A menina de sapatilhas coloridas invadiu a quietude do tempo dissolvendo em palavras derramadas a transparência da imaginável amizade: “Os meus orixás são Yemanja e oxóssi e os seus? ” .Naquele instante desvendei a placidez do apego de sermos amigas ocultas. Tínhamos algo muito forte semelhante. “Yemanja e oxossi também”. Sorrimos com embaraço e poesia porque lá no encovado sentimento sabíamos que éramos atrativos de afinidades caladas, mesmo que ainda não tivéssemos experimentado as tais das possibilidades. Ensaiei a minha primeira frase: “Deixe os seus cabelos soltos é natural abandonar o vento e deixar desmantelar nossa juba”. Os barquinhos soltaram fogos afetados saindo flores coloridas de dentro dos rojões. As flores confundiram o ar deixando-o com uma coloração encantada, pairando sob as nossas cabeças despeças. Eu levantei os meus braços e alcancei a flor que tinha cor branca e azul. Apanhei a florzinha intimamente e por alegria sortida ela estava grávida de uma semente. Pensei em um nascimento. Entreguei à semente a menina da sapatilha colorida e aspirei ao principio de um vasto carinho de amizade, só não sei se ela percebeu o afeto infantil.

Quarto Escuro

Quarto Escuro

Entrou correndo no quarto escuro. O pequeno espaço ficava no fundo de sua casa num lugar desprestigiado, onde não passeava o vento. O cubículo não tinha teto. Mesmo sem cobertura, a lua naquele dia não apareceu e as estrelas foram tomadas pelo cinza das nuvens. O céu estava carregado sob a cabeça do menino preto. Ele tinha a responsabilidade de banhar os cinco cachorros que moravam quase ao seu lado. Recebia uma quantia mínima que mal dava para sobreviver. O menino era preto. Apenas seus olhos esbugalhados pelo contorno branco clareavam a visão da menina cheia de objetos.
Ela foi entrando com hostilidade de menina dura, criada sem amor pela secura de seus pais. Talvez ela fosse tão seca pelo fato de nunca ter experimentado o amor. Era histérica e estridente. Seus gritos tentavam preencher o vazio de sua casa. Seus pais que não tinha tempo para ela, regavam-na de objetos. A casa era tão mobiliada que nem dava espaço para que seus familiares se cruzassem.
A porta do quarto escuro estava entreaberta. Ela invadiu com silêncio espantado. O menino preto, deitado em sua cama levantou assustado.
Ficaram se olhando durante algum tempo. A escuridão protegia-os. Seus sexos estavam contidos. Parecia doer. Na escuridão do quarto, só se ouviam as respirações arfantes. A menina cheia de objetos, com hostilidade e secura, aproximou-se do negrinho. As nuvens cinza tornavam o céu fechado e incompreensível, igual ao menino preto. Ele a encarava com olhar assombrado. Com aflição, a menina começou a espernear. Não aprendeu a falar. Só sabia se comunicar aos berros. Tinha todos os objetos. E aquela noite desejou aquele menino-peça também. Aquela falta de claridade entre ambos a enraivecia. O menino ficou exaltado e começou a correr pelo pequeno espaço. A menina estonteada ensaiou as primeiras palavras. A frase saia sufocada e estrídula: “Estou podre”. Ele paralisou ouvindo a roupa do corpo da menina, que era rasgada com ligeireza. Ela abriu as pernas e começou a se tocar. O odor invadiu o quarto. Tinha o cheiro de ostra e maresia. Ela repetia: “Estou podre”. O menino preto começou a se morder. Naquela escuridão, o choro engasgado do menino começou a povoar o quarto. Seu sexo estava enlevado. Com urgência precipitada ele avançou para cima da menina. Arrancou o short e segurou forte o seu pênis. Com alegria acelerada encaixou suas partes dentro do odor que ardia. Como cão célere, enfiou enterrando o roxo. As nuvens começaram a se mover e ficarem esparsas, a lua acendeu escancarando o mistério cinza do céu. A luz entrava no quarto do menino preto. Fazia tempo que ele não conhecia a limpidez da noite. Seus corpos nus e suados reluziam o brilho da claridade que um dia foi perdido na noite. Sem saber como falar o que sentiam, apenas se amaram. Ficaram enlaçados melados pelo desejo. Entorpeceram. A noite passou e os cachorros começaram a latir. Era a hora do menino se levantar e assumir suas responsabilidades porque ele era o menino preto. E a menina cheia de objetos voltou para casa. Aos berros, com seus cabelos desmantelados, correu até seus pais e pela primeira vez os abraçaram dando um bom dia escancarando os dentes.

Olhos Vazios

Olhos vazios

Seios firmes. Sangue zumbindo. Polpa entreaberta. Paralisava o meu corpo, extasiada de olhar vazio.
O calor dos corpos abrasa o meu sexo. O sangue coagula fervendo. Queimo. Meu íntimo lateja com brutalidade fálica de uma mulher febril. Vontade de colocar o imundo quente esporrado entre minhas pernas. Meu sexo grita furioso. Rastejo. Respiro buscando fôlego. Meus olhos reviram engolindo corpos acesos.
Ele tinha um ar sonso. Seu corpo descomposto espreguiçava sensualidade. Ondas preguiçosas. O mar estava manso. O suor escorria pelo rosto do menino desvalido. Pessoas esparsas vagavam na imensidão da areia branca. O brilho do sol insuportável fazia inflamar o meu desejo.
Aquele corpo exalava uma fragrância que dava pena respirar. Cheiro de promessa desastrosa. Estonteada pela provocação sexual que o menino espalhava, incendiei em chamas.
O ar estava cada vez mais agitado, misturando-se ao calor interior do meu corpo febril. O menino desvalido com short velho molhado de sal, sem perceber, mostrava a vibração enrijecida dos seus músculos distendidos. Tinha o olhar triste. Parecia aspirar o nada. Esse vazio e esse nada transmitidos pelo seu olhar distante enfureciam-me.
Meu pensamento ventilava seu corpo.
O menino vazio não saía da mesma posição. Corpo de costas para o mar, membros apontados penetrando a boca do céu. Eu, parada, convulsionava, querendo aquele corpo dentro de mim.
Um sopro obscuro uivava forte em meus pensamentos. Gritava minha consciência libertadora: “A bondade estagna a ação”. Agonizava.
Foi então que, enlouquecida por pensamentos anuviados, arranquei os pedaços de pano que cobriam o meu corpo e senti a liberdade infantil grotesca refrescando minha carne.
O meu sexo gritava. Tremia minha carne. Corri até o menino de olhos vazios, ele olhou-me e apenas disse: “Estou com frio”. Só deu tempo de ouvir essas ultimas palavras, porque naquela imensidão de areia e mar quente, o frio existe.
Por instinto cruel, devorei-o. Com uma pedrada na cabeça, seu sangue escorreu repartindo os olhos vazios. Ejaculei feliz.
Então, cheia de menino vazio, chorei feliz, voltando para casa. E o mar preguiçoso caiu em sonolência.

Esse-Meu-Corpo

Esse - Meu-Corpo

A noite passou... Até que o meu mundo se pôs.
O dia resvalava alaranjado. O galo cocoricou anunciando o céu cheio de sol. E o calor aumentando, escorrendo sob o meu rosto. Vozes distantes cortavam o silêncio, desembalando o meu sono.
Eu, cautelosa, estonteada pela fragrância doce-azeda, era invadida por entre o quarto e as narinas, derretendo-me deitada sob o colchão molhado, escondendo o “meu-esse” corpo que esquentava o desejo vazio escorrido nas minhas pernas. Imóvel, alheia ao mundo, admirava o tempo das cores. Ele passava consumindo-me, fulgurante de calor. A medida do tempo era marcada pela transmutação de cores que reluziam invadindo a fresta da minha janela: alaranjava para azular. Esquentava, aquecida num calado fervor.
Entendia o tempo, prostrada e entregue a ele. Despertava. Meu quarto, extensão do meu corpo, era invadido pela claridade do sol, que acendia a fresta aberta sob silêncio de castidade, suspiros, sussurros e gritos agudos, afobados, provocando erupções expelidas pelos dedos das mãos. Acordava-o aceso. “Ele” era meu, o corpo, e a ninguém mais pertencia. Enciumava olhares audaciosos sobre ele. Como num ritual, afundada no desejo, provocava-o rotineiramente, atiçando o fogo. O ritual começava.
Primeiro, com as mãos calejadas do movimento repetitivo do dia e da noite anterior, iniciava comprimindo e apertando o que se guardava já molhado-seco por entre minhas coxas. Alisava, ansiava e arfava, estava perto. Não ousava ainda tocar. Descobri. Provocava-me. Era assim, meu-esse corpo crepitava, ardia queimando-me, pedindo a invasão ousada dos dedos. Com belo jogo de provocação, não rendia ou cedia aos seus apelos instantaneamente. Deitada, inundada pelo feito na noite anterior - cama molhada, vagina molhada e desejo molhado -, provocava-o. Era assim o meu tempo, cores clareando ou escurecendo. Eu, deitada, observava as mudanças noturnas e diurnas das cores, repetindo a brincadeira. Afogava-me de mim por mim mesma.
Segundo, as vozes cortantes que vinham de fora invadindo o meu quarto criavam o frisson da possibilidade de ser flagrada com as mãos sobre ele. Excitava-me a intimidade escancarada. Inundada de mim começava a me bulinar. Enfiava vagarosamente os dedos por dentro da calcinha que abafava o meu sexo molhado. Alisava. Arfava. Endurecia aumentando. Passava a mão na textura rosada, movia.
Terceiro, eu, sem dizer nada para esse-corpo, maltratava-o. Parava na metade de sua vontade, desesperando-o. Jogava. Provocava. Ele pulsava agonizando. Posicionava-me em frente a um espelho que me olhava. Apreciava-o. Pegava-o bruscamente como meu serviçal e o esfregava, mostrando-o ao espelho, zombado de sua vontade de mim. Eu era a cafetina. Os suspiros começavam: gemidos, grunhidos tomavam o silêncio penoso do meu quarto, que era cortado apenas por vozes de fora. Incendiada de desejo, rendia piedosamente aos meus-seus apelos. Despia-o, observando. Sentia-me responsável, sedutora do desejo que o desejo tinha do corpo. Terceiro ritual, aos pouquinhos, contemplando a imagem posta em frente ao espelho tocava com mansidão exaltada de um profissional experiente. Começava a tocar mais forte, mordia os braços, lambia as pernas, era gato contorcionando-se para alcançar o desejo latejante. Acelerava os dedos. Gemia.
Uns passos de alguém da família aproximavam-se. A intimidade invadida, observada por outro incendiava o desejo, tentava tapar a sua boca, esfregava o rosado no espelho gelado, queria comê-lo, possuir, era meu. Passos próximos eram ouvidos. Eu arfava enciumando, acelerava os dedos. Minha tia chegou, debati inundando-me. Ela parada, as pestana dos olhos petrificada maravilhada com o corpo, suspirou gemendo soltando barulhos estridentes e com as mãos abafava o som que saia perturbado pela imagem do corpo. Ela desesperada com urgência foi para cima de mim. Enciumei o corpo. Agarrei o espelho, ele era meu e a ninguém pertencia, minha tia em cima de mim, o espelho quebrou cortando o rosado, um mar vermelho jorrou agitado, minha boca espumou, minha tia empalidecida no seu silêncio espantado agarrou-me bruscamente chorando e lambendo o sangue feliz de contentamento.

"Não me corrija. A pontuação é a respiração da frase, e minha frase respira assim. E se você me achar esquisita, respeite também. Até eu fui obrigada a me respeitar."
(Clarice Lispector)

Gluquitalas


Posso dar uma de Alice???Claro coelhinho....!!Pela estrada afora, eu vou bem....Alecrim, alecrim dourado..Ninguém vai me pegar tralálálá....Eu sei Correr, Eu sei Pular, Com minhas perninhas de Pão de Ló...
HÁ!HÁ!
HÁAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!
Alien da vida...???Eu me alienei...??Virei um ser corpo alienado...???

O meu cabelo caiu...o meu corpo não cabia mais naquela alma, ficou pequeno, eu gritei dentro do meu corpo porque a minha alma havia crescido e não cabia mais naquele piquetitico corpicho... As visceras pularam, brincando de camas de gatos...MIAUUUUUUUUUU...

Transformei-me em...

A vida começou aqui:
Eu acordei.
Eu estava no planeta terra!!!
Meu Deus era tudo estranho...!Porque não me avisaram isso antes? Comecei a analisar...
Com a lógica das minhas observações recentes do planeta terra...Verifico que existem HUMANOS...Isso me transtorna e me transforma...Existem muitas cabeças passantes no mundo...Bem, vejamos por onde começar....
Estou andando na rua, piso meus dois pés no chão....Raridade absurda...Estou com os pés no cão...No chão esqueci o “H”, mesmo!!!... Piso meus pés no chão e observo os andantes...
Vejo uma primeira menina....É uma mulher... Mas, é tão bonitinhaaa!Parece uma meninica....Ela usa uma blusa branca e uma calça jeans tem uma sandália baixinha.... Eu podia chamá-la...Porque eu não sei o seu nome, então, vou inventar....
GLUQUITALA...Gostei...Posso chamá-la de Glu...Glu passa pela rua...Eu acho que ela esta preocupada com alguma coisa, porque ela esta com uma respiração agoniada... Olha para o relógio às vezes..? Sinto vontade de perguntar o nome de Glu...Ela deve ter... 25, 26, 27 Anos...Deve ter um namorado chato e finge para ela que gosta dele...Talvez seja para se proteger da vida...Aí meu Deus, mal conheço Glu e já consigo a ler toda....Perá, pêra, pêra... Para tudo!! Glu sentou-se num banco da praça....Esqueci de avisar, estou no centro de uma praça...Não sei o nome, parei aqui...Vou andando... Finjo que não estou a observando e vou tirando as minhas impressões...Glu sentou-se com o corpo encurvado...Matei a Charada...Ela não esta legal!!!Corpo encurvado, auto-estima baixa...Mas, ela pode esta cansada...Mas, cansada de que?O que será que ela faz? Ela tem cara de.......O telefone dela tocou...!!!Um celular tão simples!!!...Que lindo! Glu é a simplicidade em pessoa!...Estou ouvindo a voz dela...Tem uma voz derramada...
"Oi...Boa tarde...Já deu 800 horas?"
Glu sorriu e disse:
"800:00 HORAS??"
"Sim... "

Eu sorri...Aí fiquei perto....Eu queria puxar uma conversa...Mas, fiquei imaginando... Se Glu não se chamar Glu?E se Glu não tiver um namorado chato?E se Glu....Aí meu Deus, toda as minhas leituras projeções vão por água a baixo...Porque agora eu me apaixonei foi por Glu...!!
"Oi...Glu?!"
" Hã?"
"Você é daqui do planeta?"
Ela sorriu, achou engraçado...!
Que sorriso mais lindo...!!!
"Você tá agoniada??"
Meu Deus!! Ela tem que esta agoniada, porque se ela não estiver... Vou achar que sou uma louca surtada...assim vou achar tudo estranho... !

"Não ou sim???"Deus do cèu, ela precisa responder imediatamenete.
"Você sabia que eu não era daqui do planeta terra?"
"Eu cheguei aqui tem pouco tempo, eu morava no mundo encantado de ALICE, você conhece?"
Ela sorriu e disse:
"Prazer, eu também sou de lá e cheguei aqui hoje...!"
Perguntamos ao mesmo tempo: "Como é o seu nome?"
Respondemos ao mesmo tempo: "Gluquitala!"
Respondemos ao mesmo tempo: 'Eu sabia..."
"Ufá!"

Faço Valer...


Faço valer as curvas escritas.

Fala de Zé:
Faço valer as curvas que estão escritas nas minhas mãos, faço valer o fundo das minhas entranhas, faço valer o coração em espanto, faço valer as descobertas da vida...
No coração de Zé fazia valer tudo, só não fazia valer as não curvas das mãos, as não entranhas vividas, o coração em não espanto, a não descoberta da vida...Porque o coração de Zé era claro, era intenso de fazer valer...
Zé morava na frente de um rio, Zé acreditava em estrelas, acreditava forte, o rio na frente da casa de Zé era grande, Zé tinha medo de nadar no rio, ele achava que não sabia nadar, na verdade, Zé quando era criança, um dia, ele se lembra, que estava com a mãe dele passando por águas límpidas de rio e a atração que ele sentiu foi tão grande pela água que Zé se jogou...O que Zé lembra foi de uma confusão, a mãe chorando, um monte de gente gritando” tira o menino da água, vai se afogar” mas Zé na hora que se jogou sabia nadar, mas, o povo achando que estava protegendo Zé, achou de tirar ele da água e salvá-lo de uma água que ele sabia navegar....Então, o tempo passou...E Zé admirava o rio, mas tinha medo de se afogar...Porque ele acreditou que realmente não sabia nadar.... Zé tinha medo de tentar ousar a colocar um dia os pés no fundo do rio, também Zé tinha um problema a se pensar: pensava que se ele pisasse no rio e tivesse um peixe descansando, ele poderia pisar no bichinho e machucá-lo e tudo que Zé não queria era pisar nos peixes, porque ele os achava doces e lindos...Zé um dia, resolveu ousar longe, ultrapassar seu medo e pisar no fundo do rio, sem machucar os peixes...Mas, para que Zé entrasse no rio ele teria que sentir a temperatura da água, perceber que o escuro do rio por de baixo olhando muito, tem tudo de límpido, saber se safar das piranhas que comem carnes humanas de forma aterrorizante, saber que as plantas pegajosas do rio nem sempre são nojentas.
Zé então parou, olhou, titubeou e se jogou no rio...Zé nadou. Nadou tanto que foi parar em TARTARTAR....Não posso mais contar porque estou em TARTARTAR...E em Tartartar existe sigilo nas ações.
Assinado:
Zé.

Derramar...

DERRAMAR...

Essa foi à história que começou assim e terminou assim:
João olhou para Mariana e viu que ela tinha olhar de mundo grande aguado de azul. Mas, Mariana não sabia que dentro do seu olho, tinha cor de olhos aguados de azul de mundo grande. Seus olhos eram contas azuis que transbordavam sossego. Um dia João quis entrar naqueles olhos, para pertencer ao mundo grande. João era magro, seco e sem aparência. João não sabia nada de mulher, João não sabia nada de ternura, João não sabia nada da vida. João não sabia nada de nada. Nada de nada uma virgula, João sabia de querer muito Mariana.
Mas, Mariana não sabia do desejo egoísta de João, não sabia que João a queria para ser dono dela. O que acontecia para angustiar João era que Mariana tinha olhos derramados para Pedro.
Pedro era alto, grande e forte. Mas Pedro, que era alto, grande e forte queria Tatiana que era amiga de Mariana e tudo se embaraçava.
João, mesmo magro, seco e sem aparência, tinha olhos vampirescos, quando sentia vontade de saciar seu apetite inventava de comer o que encasquetasse em sua idéia. Ele era birrento e nada da sua cabeça tirava. Mariana era o alimento fabuloso para os olhos rechonchudo de João. Mariana não sabia que seria a comida de João. Mariana transbordava por Pedro, alto, grande e forte. Mariana transbordou seus olhos de mundo grande por Pedro, mas, Pedro não a observava. Notava Tatiana. Tatiana era amiga de Mariana e sabia que ali era coração derramado de Mariana, então Tatiana tratava de não notar Pedro e Pedro então nem era notado por Tatiana. Mas João que não era título dessa história inventou de desejar Mariana, ou melhor, devorar para encher seus olhos gordos de deleite, comer Mariana inteira.
João não sabia de muita coisa, mas era astuto no querer, sabia da cobiça arquitetada na sua cabeça: João inventou de ser alto, grande e forte para Mariana. João engordou e ficou com aparência de olhos azuis iguais ao de Mariana. João tinha cara de afeto que se leva transbordado. João um dia, viu Mariana chorando por Pedro. João esperto no querer enxugou as lágrimas azuis de Mariana. João a consolou. Mariana, então, notou João. Ele ficou feliz. Agora na alma de Mariana não existia mais Pedro, era João, o menino que a fez secar as lagrimas azuis derramadas por Pedro. Mariana viu afeição em João. Agora era Mariana e João. Mariana viu o encanto... E encasquetou que o encanto se encontrava dentro era de João. Pedro vaidoso sentiu a falta do desejo de Mariana, mesmo gostando de Tatiana. Pedro raivoso foi brigar com João. Mas a briga de Pedro era silenciosa, abafada e infantil a de João era alterada, grossa e desmedida...Um dia eles se encontraram para um duelo: O coração de Mariana. Na hora em que um, ia cravar suas palavras no coração do outro, Tatiana chegou... E Pedro lembrou do seu querer por Tatiana e a quis novamente. Pedro pensou que Mariana poderia ser sim de João. E Tatiana, pensou sim que Mariana poderia ser sim de João. A briga foi encerrada por Tatiana. Pedro e Tatiana se enamoraram. e aí ficou, Mariana E João.
Mariana era toda cor de vento, João era todo cor...cor...cor...João não tinha cor, e então, Mariana, tratou de dar uma cor para ele. João tinha cor de chão. Era um casamento perfeito, nasceriam rosas dali...A água irrigava a terra e tudo ficava fofo e molhado, sementes que caíssem nasceriam flores...Um tempo, muito tempo se passou e João virou o mundo grande dos olhos de Mariana. João agora tinha a cor de olhos mundo grande, João agora tinha cor de água também, João, agora, até, amou Pedro. João era Mariana e Mariana era a beleza de João. Mariana achou de achar beleza em João. Mas, a beleza que Mariana havia encontrado em João, era o encanto dela. Noites se passaram João e Mariana Juntos. Um dia Mariana acordou de uma das noites que se passaram e o olho de João estava de uma cor diferente. João também estava com a cor diferente, uma aparência diferente. Mariana assustou-se e tratou de cuidar de João. Mariana detectou uma doença que se pega de bicho de porco. Mariana medicou João com alfazemas e alecrins.A aparência de João não voltava. Mariana estranhou. Mariana rezou, benzeu, medicou...Mas, João não voltava a sua cor. Um dia Mariana resolveu arrancar seus próprios olhos para dar para João, talvez para dar-lhe aquele brilho tão lindo azul, arrancar sua cor e sua aparência para dar-lhe a João...Mas ele não melhorava. Mariana foi cansando...Cansando...Sofrendo...Preocupada com João... João cada dia mais, ia perdendo a aparência e a cor. Mariana sofreu. Mariana até pensou que tinha pegado a doença de bicho de porco de João. Mas, para sua sorte, Mariana que sempre se banhava de alfazemas e alecrins, tinha uma resistência abundantemente forte e descobriu que só foi um susto e cansaço de ver a aparência de João se desfigurando. Mariana sofreu. Mariana foi buscar uma rezadeira, não podia mais ver o pobre João assim...Saiu de casa e deixou João por alguns minutos a esperar. A rezadeira quando viu Mariana se assustou. Falou para ela que ela tinha dado o olho para João, tinha dado a cor para João, tinha dado o encanto para João...E que nada daquilo que ela estava vendo era de João era dela e sempre dela Mariana assustou-se. Mariana chorou, Mariana Chorou tanto que as lágrimas saiam azuis. A rezadeira gritou: “Suas lágrimas azuis de mundo grande voltaram!!!” Mariana correu para casa, quis olhar para João. Foi um susto. Mariana quando chegou em casa ouviu uma gargalhada feia, um menino sem cor e sem aparência. João estava como bicho de porco se entranhando nos pertences de Mariana.... Mariana assustou-se, Mariana sentiu infortúnio. Mariana chorou tanto causando uma enxurrada azul....E essa foi a historia que começou assim e terminou assim... De lá de dentro da enxurrada de lágrimas azuis formou-se um lago derramado cristalino, abriu-se uma cachoeira, dentro dela saiu um bichinho pequenino e forte, mordeu João e ele se foi. O bichinho sorriu para Mariana e a viu entorpecida. O olho do bichinho era confuso, curioso e fogoso, saia olhar de mundo grande de dentro do olhar do tal bichinho. Mariana não sabe como e porque sentiu aquele bichinho uma parte antes dela mesma, confusa, curiosa e fogosa....Agradeceu o pequenino com alegria e vontade. Vontade do bichinho???? Sorriu com placidez e ternura.Só ternura?Não!! Vontade voraz cuidadosa. E como tudo aconteceu tão de repente na vida de Mariana, de repente...Num ímpeto de acontecimentos por causa da enxurrada ela beijou o pequenino com tamanho desejo e o outro dia nasceu diferente para Mariana e para o bichinho pequenino. Mariana entendeu que tudo isso que ela começou e terminou em sua história, era só para o bichinho entrar...

Meu Tio.

Meu Tio.
A casa estava vazia, um cheiro de coisa proibida no ar. Só eu e ele. Minha tia tinha acabado de sair para o shopping e não tinha horário para retornar. Minha tia amava shopping, isso me tranqüilizava, era a certeza que eu tinha de que ela não retornaria tão cedo. A possibilidade de um grande acontecimento me fazia senti calafrios. Eram 17:00 horas. Esse fim de tarde sempre me deixava excitada. Não sei o que se passava no meu corpo a partir desse horário, só sei que era bom e me fazia senti uma cadelinha querendo cruzar. Ele estava deitado no seu quarto. Um short velho e sem cueca. “ Oi Tio...Posso usar o seu computador?” Minha barriga dava nó de nervosismo...Não conseguia fixar meus olhos nele. “Claro, meu bem!!”. Que resposta mais sem graça e quase ridícula... Entrei no quarto, meu tio continuava sentado com o short velho e pernas abertas. Não podia da bandeira e ficar olhando por dentro do short dele. Meu coração mesmo pulsando de vontade de olhar ele todo, tinha que me comportar. Sentei na frente do computador. Meu tio assistia a um filme. Acho que era de terror. Ouvia aquela "musiqueta" bizarra de suspense, mas, minha concentração tinha que esta voltada para o computador. Liguei a "net "e aí começou o meu plano. "Tio...é...você entende de computador?" " Sim, querida...!!!" Eu odiava quando ele me chamava assim, parecia tão falso e insosso... "O senhor pode me ensinar como é que eu copio um arquivo e mando para uma amiguinha minha?" "claro, querida!!!" Meu tio se levantou e veio até mim. Ele parecia esta com algum desconforto, pois, já havia colocado as mãos dentro do short duas vezes para ajeitar o pau. Ele sentou ao meu lado. Sentir o hálito dele e o desodorante que ele usava. "O que é que você quer que eu envie?" Fiz uma voz de menininha desprotegida..."Aí tio, estou querendo enviar umas fotos minhas e da Malu, para ela porque ela esta querendo colocar no seu álbum de fotos do orkut, você conhece o orkut tio?" Meu tio deu uma risadinha engraçada...'Sim querida... conheço" Abri o álbum de fotos para que pudéssemos enviar o tal arquivo...Meu tio abriu um olho meio esbugalhado e sem graça....Tinham fotos de todo tipo com a minha coleginha. A gente de biquíni, sem blusa, só de calcinha, cobrindo o peito com as mãos e uma eu e minha amiga sentada uma no colo da outra se beijando...rsrsrsr!!! Meu tio parecia muito sem jeito, ele começou a pigarrear...e ...humpf...humpf..."Meu bem posso enviar? Que fotos são essas ? Acha legal colocar fotos dessa forma num álbum que todos vão ver?" "Como assim tio....?" rsrsrs!!! "Eu acho que sua tia pode não gostar QUERIDA"....Olhei para ele, olhei para o seu pau e observei que estava alterado... Quer dizer duro...E bote duro nisso....rsrsrs! "Tio, você esta com vontade de fazer xixi?" ...rsrsr!! Quando observei que ele já estava bem excitado , parti para a outra etapa do plano..."AÍ, AÍ!!" "... O que é Samantha?" "Estou confusa Tio!"Risos..."Acho que, sei lá, não sei se me entende, mas, tem alguma coisa que eu não sei explicar que quando fico perto de você parece que da uma quentura por dentro..."
Há!Há!Há!O homem estava ficando loucooooo..."Tio, olha só, pega aqui no meu coração, vê só como fico..."O meu tio perdeu toda a cabeça...Foi se aproximando de mim...Sua respiração estava arfante...Risos...Meu plano havia funcionado! Sou uma fofa anjo( falseta)...!Arrancou o meu vestido e brincamos ludicamente de forma tio e sobrinha...Risos!
Ludico, Porque ele era o meu tio e o lúdico nunca deixa de acontecer para mim nessas horas...Eu gritei... “Olha o cavalinho...!!!”E montei horrores em cima dele...rsrs..Final Feliz...!! Ou melhor... The And...!!!

Castelo de Pedrinhas

Castelo de Pedrinhas


Desejaria ver aquele sexo dançar. Respiro movimento. Sou um monstro faminto xeretando carne alheia. Como, depois enjôo jogando fora.
Eu morava num castelo de pedrinhas coloridas, onde existia uma pequena tábua ao lado da casa que dividia e separava o meu espaço ao de uma moça que não sabia fazer seu corpo dançar.
No espaço da moça-sem-dança, tudo era seco, parecia não ter cheiro, som e nem cor, aquela condição enervava-me. Seu corpo, dentro de onde ela morava, mostrava-se reservado e endurecido. Eu queria tirar aquele corpo de lá. Minha barriga reclamava fome, precisava comer corpo em agitação.
Respiro ansiosa...
No espaço onde eu moro, existem pedrinhas coloridas que às vezes por uma pontadinha aguda e ousadas das suas posições ferem os meus pés.Deixo-os sangrar para enriquecer as cores, ainda mais, com o vermelho intenso. Queria a moça reservada no meu castelo. Queria ensiná-la a dançar movimento, pisar nas pedrinhas e mastigá-la...digerindo tudo.
Minha pele me reveste de cara de uma boa menina. Essa é a melhor vestimenta que me cabe no armário multifacetado do meu cinismo deslavado. Eu queria a moça reservada brincando no meu castelo, e quem sabe cobri-la de pedrinhas, feito castelinhos que eu brincava em minha infância na praia, escondendo corpos por debaixo da areia. Mas agora a brincadeira era diferente, queria pedrinhas de castelos para cobri-la colorida de furos e agonia, tinha fome de devorar corpos em alteração. Queria cobri-la de pedrinhas pontiagudas fazendo-a contorcer-se pela dor, deixando-a estremecer para sair o movimento. Sua pele sendo penetrada pelas pedras, daria vida, agitação e sons com urros que alegrariam os meus olhos ansiosos por cores e movimentos.

...

No dia em que senti uma fome maior, era primavera e eu venerava sentir as fragrâncias das flores, elas exalavam odores de funeral. O perfume das pétalas acalmava os meus sentidos libertinos. Naquele dia que era primavera, choveu. Os pingos da chuva eram tão fortes, que me cortavam como açoites. A água-açoite me bolinava. A chuva me entranhava. Mas, por desejo natural de paixão instalada, apenas pela moça endurecida, o meu pensamento fixava-se em sua existência, portanto eu usava a água que insistia em me penetrar. Eu estava fervendo pela garota endurecida.

O vendaval-chuvoso estava forte e fogoso, desorganizando tudo, violentando a minha pele com carícias, eu sentia cócegas, mas, não a queria.
A água foi tão intensa com a ventania, que demoliu a tábua que dividia os nossos corpos e espaços. Com despeito a água turbulenta só fez nos aproximar. Eu ri da chuva.
Agora não existia mais afastamento. Gelei.
Tudo se misturou: A casa seca sem cor, fragrância, movimento sem movimento e as pedrinhas coloridas pontiagudas.

A abertura que ficou entre as duas casas fez-me olhá-la: tensa, dura e parada. Ela usava uns óculos escuros, talvez fosse esses artifícios protetores dos olhos, que fazia ela não enxergar a vivacidade das cores.
Ela não fez nenhum movimento ao me ver ali parada, observando-a: petrificada, exaltada e inquieta com o arrebatamento da sua imagem. Durante minutos, que parecia séculos, fiquei a observar. Minha barriga roncava e contorcia-se.
Corri para a minha casa, liguei o som bem alto, tocava uma música que nem era melancólica e nem era amável, não tinha divisões maniqueístas de emoções, apenas era uma música. Eu voltei para o espaço sem divisão e comecei a bailar. Abaixei-me, depositei um punhado de pedrinhas entre as minhas mãos ao som do movimento e fui me aproximando para o espaço da sua casa. A minha barriga roncava alto, misturando-se com o som pulsante sem definição. Estava tudo meio escorregadio, porque a chuva de açoite tinha deixado seus rastros com feridas nos corpos, mas por desprezo dos meus olhos ela havia ido embora. Só o cheiro das flores de primavera-cemitério permanecia perfurando as minhas narinas e talvez as da moça endurecida. Cheguei mais perto dela, abri o punhado de pedrinhas das minhas mãos, e aproximando-me ainda mais dela coloquei o montinho colorido no chão à sua frente. Ela fez uma expressão que significou uma reação curiosa. Minha barriga roncou. Minhas veias ficaram trêmulas e minha voz embargada, chamei-a para dançar. Só ouve um balançar da sua cabeça que dizia um não, mas, coração apaixonado, entendeu como um sim aquele gesto . Então, puxei-a para dançar. Ela fingiu que rejeitou, mas seu corpo que sempre estava tenso e duro amoleceu ao pegar na minha mão e não mentiu no sim do seu desejo. Eu tirei os óculos dela, os seus olhos eram pretos feito duas jabuticabas. “Eu te ensino a dançar”. Disse a ela. A música tocava. Aproximamos os nossos corpos e começamos a balançar. Seus movimentos eram desconexos e escorregadios, acho que a água da chuva havia deixado deslizes no chão. Nossas roupas estavam pesadas dos açoites da água, que por malícia tentou nos possuir e entrar, interromper e se intrometer em uma história que apenas era nossa e sem dizer nada nos despimos do peso da água que ficou na roupa. Agora só éramos nos duas.
Era primavera, a chuva tinha passado, o som era gostoso de ouvir e as pedrinhas existiam no chão, e o seu corpo agora dançava.
Minha barriga roncou atordoada. Fiquei olhando as pedrinhas, abaixei e coloquei aquele punhado pontiagudo na minha mão. Elas me feriam, mas eu Fingia que não doía. Dava uns gritinhos de disfarce, mas era dor das pedrinhas, dor de paixão e dor de fome. Ela finalmente sorriu.
Ofereci as pedras para ela, ela olhava-me com olhos escuros de jabuticaba. Aceitou o punhado das pedras. Minha barriga esfriava e arfava. Ela segurou o punhado colorido olhando-me fortemente. Vagarosamente coloquei as minhas mãos entre as suas e apertei-as bem forte. Ela assustou-se. O sangue vermelho saía por entre seus dedos, a música tocava, o cheiro de flor de cemitério exalava, minha barriga dançava e ela começou a soltar gritinhos e sorrisos que faziam parte da nossa brincadeira de pedras pontiagudas. A dança acelerou-se, porque a música mudou e os nossos estados estavam eufóricos, tão cúmplices e misturados que quisemos girar e gritar por todo aquele pequeno e grande espaço que um dia nos separou. Corremos e dançamos muito. A chuva traiçoeira e enciumada do nosso amor vingou-nos, penetrando sem licença sobre os corpos de nós duas. Quisemos massacrar a chuva. A brincadeira parou. Porque tudo começou a alagar e a vazar. Olhamo-nos. Ouvi um ronco, mas não saía da minha barriga, era o dela, era estridente e sofrido, assustei-me e senti felicidade entendendo a correspondência doida do seu amor. Paradas, extasiadas com o modo audacioso da chuva, chamei-a para minha casa para fugirmos. Corremos até lá, a chuva nos perseguia, juntamos muitas pedras dentro de um saco plástico, a chuva fazendo cócegas em nós, eu amaldiçoando a chuva e a menina-minha gritava para ela ir embora porque a chuva entrava no seu corpo. Com sacos de pedras coloridas entramos na minha casa, mudamos a música, colocamos um som sem definição e começamos novamente a brincadeira, dança, música e pedrinhas coloridas. Nossas barrigas roncaram ao mesmo tempo, sorrimos com cumplicidade. Sabíamos o que queríamos. Cobrimo-nos com pedrinhas coloridas que furavam e penetravam nossos corpos dando cores que fascinavam os nossos olhos. Sangramos sorrindo. As pedras pertenciam a nós duas, começamos a gritar e a uivar pela dor, paixão e pela fome que as nossas barrigas tinham uma da outra. Abraçamo-nos e as pedras foram entrando cada vez mais no nosso peito, furando, beijando-nos, tornado uma imagem de castelo alto de pedrinhas, meninas juntas de vidas coloridas... Até que a outra vida nunca mais tirasse as cores que só eram nossas. Comemos-nos: orelhas, braços, pernas, matamos as nossas fomes e enfim fomos desfalecendo. A chuva enraivecida tornou-se furacão e derrubou tudo como um turbilhão. Restaram a música, o aroma das flores do cemitério e as pedrinhas coloridas que nos levaram coloridas para outro instante.

Cheiro de Estrume

EXPOSIÇÃO DO CONTO CHEIRO DE ESTRUME NO SANTO ANTONIO- SALVADOR

Cheiro de estrume

Cheiro de estrume. Cheiro de coisa velha. Cheiro de porco. Cheiro de gozo fétido. Cheiro de leite podre. Cheiro de suor azedo. Cheiro de hálito batido.... Exalavam no ar os meus 12 anos. O tempo dividia-se em dois: antes dos doze anos e depois dessa idade.
Sangrei. Menstruei. Brincadeiras de bonecas já não podiam existir. Sofri, obriguei-me, era mulher. Agora eu era a boneca das minhas brincadeiras: a Barbie que brincava com o Bob, o Bob que brincava com a Barbie, a Barbie que brincava com a Barbie, o Bob-Barbie-Bob, e todos juntos brincando. Era assim, duplas, triângulos, quartetos ou qualquer coisa e tal. Ele era quase velho, tinha lá seus quarenta anos. Olhava-me. Perturbava-me. Em casa, morávamos eu, minha avó, minha prima e ele, o tio-porco-velho. Babava. Rosnava. Sugava-me com olhos remelados.
Nas tardes gostosas de brincadeiras despretensiosas com malícias inocentes, antes dos doze anos, eu e minha prima nos divertíamos recheando de fantasias aterrorizantes e excitadas a descoberta do mundo. Minha prima era a minha guia, tinha um ano a mais que eu, observava-a. Ensinava-me. Encostava suas partes íntimas em quinas de cadeiras, camas, vasos dos banheiros que rangiam agonizantes de desejos. Balançava-se, esfregava para frente e para trás, com ar sonso e agitado, apresentando coreografia com sons abafados, gemidos preguiçosos, excitantes de se ver. No instante do silêncio ansioso crescente, seu rosto e a sua respiração transfiguravam-se, dilatavam-se, saíam sons murmurantes escondidos que até então eu não conhecia. Cansada depois da coreografia, ela jogava seu corpo no chão, olhava-me e dizia num tom provocador: “Faça igual”. Imitava-a, esfregava, gritava, gemia beijando-a na boca, sorríamos e não falávamos sobre o ocorrido.
Descobrimos o mundo...
Revistas no quarto do tio-porco-velho de pessoas que mostravam seus corpos despidos em posições curiosas. Arrancávamos as páginas e comíamos os papéis. Comíamos partes intimas dos corpos das fotos, digeríamos mijando, sempre. Gostávamos de andar de calcinha pela casa, fazíamos desfiles, enfeitávamo-nos com pedaços dos restos das costuras encomendadas a nossa avó.
Descobrimos o mundo...
A máquina da minha avó não parava o dia inteiro. Meu tio-porco-velho cuidava-nos, rondando com seus olhos arfantes e sua voz que saía engasgada e esmagada, atrapalhado, gesticulando como burro-surdo-mudo a cada travessura que fazíamos. Tínhamos o trunfo nas mãos: ele não podia falar. Zombávamos dele com línguas, invadíamos o seu pequeno mundo castrado pelo desejo interrompido. Era porco-velho.
À noite dormíamos no quarto com minha avó, eram três camas divididas por criados-mudos, iguais ao meu tio. Meu sono era despertado no embalar da noite, gritos ensurdecedores povoavam o abafado de nossa casa, era o vento furioso me chamando. Levantava-me nas noites de insônia, quase zumbótica, atendendo aos seus pedidos mudos de sofreguidão. Ia até o seu quarto, escondia-me. Ele deitado, acorrentado por grades imaginárias, virava porco à meia-noite. Babava. Crescia o que tinha entre as pernas, chorava lágrimas abatidas, soluçava. Fingia que não me via. Eu sorria. Desconfiava do seu mundo sem som e sem voz, achava-o mentiroso. No delírio e no transe, ele me chamava. Sua voz era grossa, sufocada. Tinha nojo, cuspia. As noites, antes dos doze anos, moviam-se por desejos castrados pelo medo do meu tio porco de me entregar e falar. Tinha o trunfo: a voz. Eu, medo dele, vomitava. Provocava...
Sopro úmido e obscuro...
Cheiro de tempo passando. Cheiro de sangue. Cheiro de mulher. Cheiro de gosma. Cheiro de coagulação. Menstruei. Minha prima, sendo um ano mais velha, invejou-me, enciumou. Não era mulher ainda. Feto. Rejeitei-a. Achei-a boba para a minha mocidade. O que me restava a fazer era descobrir a outra parte do mundo sozinha, na solidão dos desejos. Era mulher. Estava no cio. Andava composta pela casa com roupas que cobriam as partes íntimas. O primeiro sutiã escondia as pedrinhas bicudas audaciosas que apontavam para a vida, comportava-me como uma cadelinha formosa. Meu tio porco-velho era cão farejador. Sempre que sangrava, ele me seguia como cachorro que quer lamber o rabo. Eu o enxotava. Aos gritos, ele saía rosnando com as mãos apertando suas partes íntimas que cresciam por entre os calções fedidos e velhos.
Era a terceira vez em minha vida que eu sangrava, algo estranho começou a pulsar dentro de mim, queria preencher uma coisa lá dentro. Assustei-me. Repeti as coreografias bem decoradas várias vezes, melei minha mão de sangue, cheirei, estranhei. Gozei pouco. Queria mais. Doía. Pensava no porco-velho, tinha nojo, vomitei. Gozei pobre. Fui dormir, a noite chegou. Perturbada pelo desejo latejante, por gritos abafados do vento furioso, fui chamada pelo rugido surdo e mudo apavorado do tio-porco-velho. Levantei-me cautelosamente, fui me arrastando como uma cobra, queria dar o bote. Como de costume, atrás da porta, observei-o. Seus membros cresciam, toquei-me. Sentia confusão, nojo, desejo. Queria ele. Abri a porta. Seus olhos arregalaram-se, ficaram estatelados me olhando, sua mão era enorme, não maior que os seus membros arroxeados, que eram friccionados num movimento arfante de cima para baixo. Fitei-o. Ficamos nos encarando como num duelo raivoso durante um tempo. Furor e desejo. Seus dentes começaram a crescer, seu cu transfigurou-se num rabo, suas orelhas se deformaram. Ele babava. Virou porco-velho. Possuída, incendiada, arranquei a calcinha do corpo, gritei, ordenei: “Chupe, lamba tudo seu porco-velho”. Ele meteu a língua e focinho por entre minhas coxas, sugou, bebeu. Misturando saliva e sangue que escorriam da sua boca, ele falou: “Eu nunca fui surdo-mudo sua puta-porca, abra a perna vou te meter”. Abri a perna, ele enfiou, eu comecei a chorar salgado. Ele lambeu ardendo-se do sal.

terça-feira, 10 de março de 2009

Branca De Neve


Branca de Neve

Eu era a branca de neve, ela era a domadora de leão. Estávamos sob situação de perigo provocador: o desejo dilacerador do leão e a neve que derretia de mim, afogando o bicho inundado pelo pântano. O mato abria-se fundo, escuro desconhecido. Inundava com força de enxurrada. O leão debatia-se feito bicho perdido assustado.
O bicho raivoso com o sangue latejante nas têmporas instalava-se dentro da domadora. Fugiu. Ele tinha grade, quebrou-a sob impulso desordenado. Queria escapar do perigo provocador. A domadora tentava dominá-lo, estava enfurecido, queria devorar a branca da neve. Eu derretia, deixando a polpa faiscante e luzidia aberta tremulando ao olhar cortante do leão. Entre as pernas brancas de neve, o pântano escorria pegajoso, cobrindo-me até os pés, com o corpo palpitante suavemente ofegava respirando. A domadora apavorava-se, tentando controlar o bicho raivoso. Usou estratégias paralisantes, teorizou, controlou, racionalizou, embaralhada, perdia, desesperando-se. O leão, embriagado pela fúria inundada do pântano, aumentava o seu ardor, temendo a morte. O cheiro rio do pântano exalava entre as narinas do leão, atormentando seus sentidos violentos. O leão possuía desejo furioso, tinha sede, tinha água, queria beber, mas duvidava, não sabia nadar. O suco derramado, viscoso incolor, cobria o matagal que derretia. O bicho enfurecido, cheio de sede, queria beber o líquido, secar. A domadora segurava a fera sobre chicotes de racionalidade, seu desejo crepitante. Prendia-o. Amordaçava. O desejo contido do leão era maior, vencia a luta dominadora.
Eu, sem lutar com a força da natureza, empalidecia rendendo-me ao leão, estava consternada pelo desejo, sabia que ia me afogar, não tinha como nadar. Entreguei-me. Afundei. Com as pernas entreabertas, tentei boiar, deixei-me levar pela onda do líquido. O leão desesperado foi coberto pelo fluido viscoso da neve, branca de neve. Dentro do pântano, o leão engoliu água ardente que era inflamada pelo fogo que acendia nossos corpos. Com a língua perdida e calor nas têmporas, sugava o líquido buscando sobrevivência, atrapalhava-se, não sabia como se salvar do perigo, já havia afogado. Lambeu, bebeu, sugou. Eu sussurrava mortificada, recebia com desejo ansioso a língua-socorro do leão-perigo. Sem saber como parar o rio corrente, que transbordava entre as nossas pernas, o leão, com fervor, aumentou sua boca, colocando todo o líquido do pântano até a goela. Eu gemia, espasmava e murmurava ar agitado, perdendo o fôlego, debruçada sob a língua que sugava o pântano. A água que os cobria começou a jorrar mais forte dentro da boca enorme do bicho e a estalar. Uma montanha rosada com aspecto de flor foi tomada de água, inchando-se, dilatando, respondendo ao desejo de natureza mexida. Perdido, sem mais hesitar, entregou-se, metendo a boca ferozmente na coisa rosada. Eu gritei exaltada. Buscando ar, segurei o bicho raivoso entre minhas pernas brancas, sufocando a juba grande. O leão sugou fortemente a enxurrada que vazava entre seus dentes, eu o segurava. Instintivamente, o bicho feroz abocanhou o perigo devorando-me com toda velocidade, enfiou toda sua pata entre as pernas brancas e traiçoeiramente, mordeu, comeu-me. Debati-me gemendo mortificada. Agora violentado pelo desejo perigoso, com o sangue zumbido e o calor aumentando, escorrendo suor pela cara, sua boca espumando desejo excitado, empalideceu, gemeu num constante crescente debatendo-se. Engoliu a coisa branca viscosa. E com fúria veloz possuído de alegria corajosa, urrou violentamente demarcando o seu território salvador.

Vende-se Quiabo

VENDE-SE QUIABO


Aquele dia... Foi quando o meu coração começou a bater mais forte, olhei para a placa e estava lá escrito em minha frente: vende-se quiabo. Na feira todo mundo é camarada, a labuta é igual para todos, lá abre madrugando o dia. Acordamos com as galinhas, corremos atrás do tempo para que ele não escureça e vá embora mais cedo. Minha mãe sempre me disse que homem que dorme demais não vence na vida e que as galinha é amiga dos homens e o relógio de Deus. Eu nunca que entendi como as galinha era amiga de Deus, mas como foi mainha que disse, a verdade então estava dita e ponto.
Eu era homem feito, 29 anos de estrada, quando senti essas coisa meio doida de aborrecer a cabeça e o juízo. Sentia uma dor que eu não sabia como dizer, mas não era dor de corpo, era dor de alma e eu nunca que tinha ouvido falar em dor de alma. Mainha morreu no meu aniversário, eu tava só no mundo, não conheci meu pai. Mainha me falava desde cedo que ele tinha ido embora, porque tava doente da moral, e tinha ido se cuidar. Até hoje não sei nada dele e se já ficou bom.
De manhã, quando eu acordava, fazia tudo o que era de costume. Os ensinamentos de minha mãe eu levo pra vida toda. O sonho de mainha era de um dia eu saber ler aquelas placas grandes que ficava na rua roubando os olhos de quem ás vezes nem queria ver. Tem até um nome para isso... Agora num lembro. Que coisa mais doida de profissão, roubava os nossos olhos de verdade! Eu acho que um dia queria fazer isso de roubar os olhos de toda gente.
A dor de alma aumentava a cada dia, a feira era o único lugar onde eu recostava a minha dor e ela parecia ir embora. O dia em que mainha me deixou nunca que esqueci: ela tava deitada na cama, tinha tosse de cachorro, acho que pegou de Lolita, a cadelinha da vizinha que todo dia vinha comer o pratinho que eu e mainha fazia para ela. Lolita morreu. Fiquei triste. Minha mãe, como sempre, me explicava que todo mundo tem sua vida traçada e sua hora. Às vezes eu ficava era doidinho pensando quando é que a tal da dona morte ia me levar. Pedia a Deus que ela não viesse tão cedo, eu não gostava dela. Mainha sorria sempre quando eu falava disso, ela era corajosa e nunca que teve medo de nada. Eu acho que a única coisa que doía em mainha era ela não saber ler as placas que ficavam escrita na rua e não saber escrever o meu e o seu nome.
Um dia, bateu na minha porta um rapaz bem apessoado, dizendo que trabalhava contando quantas pessoas existiam onde a gente morava. Eu achava que era doidice e ficava matutando para entender como ele contava tanta gente num mundo que mainha dizia que era tão grande! Também pensei em um dia poder contar o quanto de gente que existia no mundo... eu ficava pensando o que era maior: o número de gente ou o tamanho do mundo? Meu Deus, eu acho que tenho é certeza que o número de gente deve ser maior, toda hora eu vejo gente em todo lugar: na rua, em casa, prédio, até no lixo e na ponte. Acho que deve ter pouca terra para esse mundo de gente, não tem terra pra fazer casa para todo mundo. Mas mainha dizia outra coisa que atrapalhava a minha cachola: “Deus é tão alto que nunca que ninguém vai alcançar os olho dele. Ele vê é tudo porque o mundo é muito do grande, igualzinho a ele! Os Homem que não sabe disso leva toda terra com ele, mas Deus é maior e vê tudo de cima”. Sempre acreditava nas palavras dela, mas isso era ruim pra entender. Eu ficava pensando que eles não davam as terra para os que não tinha era porque o mundo tava pequeno demais para esse tanto de gente, e não porque não queria.
No dia que o rapaz que contava gente no mundo chegou, ele mostrou a mainha como que era as letras que escrevia o meu nome e o dela: “É assim, dona Nair: N-A-I-R. E seu filho é R-A-Y-M-U-N-D-O”. Nunca que minha mãe perdeu esse papel. Aquele dia que dona morte chegou e levou mainha, ela tava segurando forte o papel dos nomes e me disse: “Meu filho, vou te contar um segredo. Um dia sua vó me disse que existia um tesouro no mundo, mas que pra achar, a pessoa tinha que saber as letra que mostrava onde tava o baú do tesouro. Sua mãe tava era buscando o tesouro, mas aí acho que me perdi do caminho quando conheci seu pai, ele disse que mulher dele não tinha que tá procurando tesouro e essas coisa de saber letra. Aí depois de um tempo você nasceu e seu pai ficou doente da moral e foi embora, fui esquecendo de encontrar o tesouro onde as letra tava guardada e aí não achei foi mais. O tesouro diz é tudo desse mundo que é tão grande...! Mundy (era assim que ela me chamava), vá buscar para sua mãe o tesouro que tem o segredo das letra. Vou tá vendo você lá de cima, nos braços de Deus, e dando é risada de felicidade! Se lembra que te disse que ele era grande?!”. E foi aí que mainha fechou os olho. Nesse dia que senti uma dor tão grande, mas que não era no corpo. Conversei com o meu camarada da feira, Zé Augusto, e ele me mandou procurar a mãe dele que era dona de uma farmácia e entendia de dor de gente, de tudo que é tipo. “Raymundo, você está com uma dor na alma de saudade de sua mãe, precisa encontrar um motivo para viver melhor”. A dor de alma não tinha remédio que curasse, eu ficava dia e noite matutando o que podia melhorar a minha dor.
Já fazia um monte de tempo que mainha tinha ido morar com Deus, acho que já virei o ano diferente duas vezes sem minha mãe. Um dia aconteceu uma coisa muito bonita. Eu tava na feira, na minha barraca de quiabo, quando Rosa apareceu. Ela era bonita feito gente de novela, tão doce que parecia fazer massagem naquela dor de alma que sentia há tempo sem sarar. “Por favor, você pode me dar um centro de quiabo?”. “Sim, claro!”. Nesse dia, não sei o que foi, mas o meu coração bateu mais forte e meu estômago embrulhou. Acho que entendi o que meu coração e meu estômago tava querendo me dizer: eu tava era apaixonado! Chegava cedo na feira, como de costume, e ficava buscando todo o tempo Rosa com meus olho.
Uma tarde, lá na feira, ela chegou linda, de vestidinho solto no corpo, o que mostrava que era uma menina de família. “Oi! ...é..... Aqui só vende quiabo?”. Eu fiquei com medo de dizer que sim e ela nunca mais aparecer. “Não, não... é que tá tudo em falta”. Ela sorriu para mim e me perguntou: “Como é que é o seu nome?”. Eu quase gaguejando respondi: “Ray... mundo”. Ela sorriu mais uma vez: “Escreve para mim seu nome, para eu guardar comigo, como se fosse foto que a gente guarda...”. Fiquei sem graça e embaraçado, falei: “Eu estou procurando o baú do tesouro que guarda as letra, mas ainda não achei. Quando eu encontrar, te mostro tudo o que tá escrito nas letra”. “E tu sabe como vai buscar esse tal de baú?”. Foi aí que descobri que Rosa tinha me mostrado o que os meus olho tava teimando em num ver. Eu precisava buscar onde é que tava esse tal de tesouro escondido.
Eu já tava há um tempo com Rosa, a gente buscava o tesouro junto, já que ela queria descobrir os segredos das letra comigo. Teve um dia que foi um dos mais importantes de minha vida. Rosa chegou gritando em casa: “Eu encontrei Dico (era assim que ela me chamava) onde tá o tal do tesouro!”. Meus olho ficaram foi brilhando naquele dia! Fazia era tempo que eu e ela procurava o tal do baú, eu já tava com os meus 38 anos e ela 32: “Ô bicho burro é o homem, às vezes tá tudo de baixo do nosso nariz e a gente empaca e num vê”. Rosa chegou gritando: “Tá aqui pertinho Dico, é enorme. Acho que vai ser é difícil da gente desembrulhar....”. Mas não foi nada difícil da gente desembrulhar o baú.
Então, como em toda história existe um homem bom, nessa também existiu. Foi quando o moço que contava gente no mundo resolveu voltar, cumprindo a promessa que um dia fez a dona Nair. Foi para a feira, na barraca de quiabo de Raymundo, e encontrou Rosa. Lá eles conversaram tudo e ele explicou para Rosa quem ele era e o que tinha vindo fazer aqui. No dia que ele bateu na minha porta mais uma vez, tive um sentimento bom de que chegava um amigo. Lembrei do segredo que ele tinha comigo... Lembrei também do dia que ele apareceu pela primeira vez e ficou meu amigo e de mainha, naquele dia que ele apareceu na porta de minha mãe perguntando um monte de coisa! Fiquei até um pouco aperriado, não gostava desse negócio de gente que não conheço saber de minha vida. O moço perguntava tudo e eu e minha mãe respondia tudo também. “Por favor, dona Nair e seu Raymundo, grau de escolaridade?”. “Não sei, não senhor, esse negócios de letra”. Foi nesse dia que eu ouvi baixinho mainha falando de um tal de tesouro: “Pois é, seu moço que conta gente, eu tava era buscando o tal do tesouro, mas aí...”. Ouvi tudo o que eles falavam, mas mainha dizia que era feio ficar de olho na conversa dos outros, e então apaguei de minha cachola o que eu achei que tinha ouvido e nunca mais quis lembrar, até mainha me revelar sua antiga procura das letra e Rosa aparecer! O homem que contava gente gostou foi demais da gente. Ganhamos um amigo, o que era uma das coisas que mainha dizia ser mais rica na vida. “Tchau, dona Nair e Seu Raymundo. Obrigado pelo cafezinho, um dia eu volto”. E foi aí que se desenrolou o presente e se sucedeu a história. Ele voltou e.... a descoberta do baú.
Eu tava em casa, era hora do almoço. Bateram na porta. “Atende aí Dico, é um moço que conta gente no mundo, que disse lá na feira que vinha aqui. Ele disse que era seu amigo”. E foi assim que senhor José (era assim que o moço que contava gente no mundo se chamava), apareceu mais uma vez. Ele entrou, sentou e tomou cafezinho com a gente. Contei que mainha tinha ido morar com Deus e que Rosa era toda a riqueza que eu tinha na vida agora. “Eu voltei, Raymundo, para cumprir a promessa que um dia fiz a sua mãe. Rosa me contou que vocês estão procurando o tesouro!”. Aí foi que tudo se clareou na minha cabeça... Lembrei do dia que ele prometeu a minha mãe de achar o tal do tesouro. E me recordei daquela cena dele vendo que eu ouvi o que ele e mainha diziam. Ele sorriu para mim, naquele dia, e fez que não viu que eu tinha ouvido sem querer o que mainha falava. Entendi, naquele dia, que ele era o meu amigo e que ia guardar o meu segredo. Ele viu que eu vi, mas fingiu que não viu, esse era amigo de verdade!
Naquele dia que ele voltou. Seu José contou para mim e para Rosa uma bela história. Falou que existia um menininho que um dia quis conhecer o mundo todo, mas esse menininho não sabia como começar, e aí um dia uma “fadinha” veio e mostrou que, pra começar uma aventura, ele teria que decifrar o que tava escrito num papel que ela tinha acabado de entregar para ele. O menininho sorriu e disse: “O que tem escrito, não sei ler?” . Foi aí que esse menininho percebeu que para ele desbravar o mundo, tinha que entender o que tava escrito no papel. O menininho perguntou para a “fadinha” como é que se começava a aprender aquelas coisa que tava no papel, e foi aí que a fadinha respondeu: “Para aprender a ler, basta estar com o coração aberto a mente atenta e se deixar viajar... Quando você menos perceber, estará desbravando o mundo e viajando por ele todo! A leitura te leva para onde você quiser!”. Seu José disse que hoje o menininho trabalha como um servidor público do IBGE, conhecendo todo tipo de gente, de história, viajando muito e ajudando muita gente como um dia o menininho foi ajudado! Fiquei foi contente, aquele dia entendi a mensagem e o fim da história: seu José era o menininho e tava agora era viajando pelo mundo todo com as letra!
Foi nesse dia, com meu amigo José, que pisei pela primeira vez numa escola. Era grande como Rosa tinha falado, fiquei pensando como seria difícil desenrolar aquele troço que era tão grande.... Mas não foi difícil, não! Foi isso que aconteceu com as letra. Eu e Rosa aprendemos fácil a entender as placa que tavam escrita nas rua, a nossa mente tava atenta pra tudo o que o professor ensinava, conheci tudo que é letra! Tinha umas com uns nome engraçado como quê: Agá, Xis, Jota....
O mundo realmente era grande demais para esse tanto de gente que tinha na rua, na ponte, no lixo.... eu agora que entendia a matemática do mundo: o mundo é grande e tem terra para todo mundo, tem mais tamanho de terra do que tanto de gente, então isso quer dizer que tem terra para todo mundo, que doidice! Matemática mais errada.... muita terra pra uns e terra nenhuma pra outros, bem que mainha disse: “Deus é grande e Vê tudo!”. Quem decifra as letra entende o mundo!
No dia em que aprendi a ler... Aquele dia... foi quando o meu coração começou a bater mais forte, olhei para a placa e estava lá escrito em minha frente: VENDE-SE QUIABO. Eu agora, de braços abertos, descobria o mundo das letras e tudo se abria na minha cabeça: a matemática errada das terras, as placas, até a dor de alma...Tudo! O mundo novo se abria para eu poder entrar com Rosa, feliz, e lá de cima eu ouvia minha mãe dizendo: “Entre mais, Mundy! Você pode ir onde quiser e caminhar sempre na placa que indica: pra frente! E ser o que quiser! Você sempre num quis roubar os olhos de toda gente?”. Foi nesse dia que lá do alto eu ouvi minha mãe sorrindo nos braços de Deus e entendi que ele era grande demais, como ela tinha dito, e que o mundo era sem fim igual a ele. Agora só me faltava viajar no mundo sem fim das letras e descobrir um monte de coisa sobre ele. E foi depois da alfabetização que escrevi essa minha história, para que eu pudesse sempre roubar os olhos de toda a gente.

A Moça Esquecida


A Moça Esquecida

A Santa coberta por um véu começou a chorar. Escorria sangue dos seus olhos, eram lágrimas abatidas de enlevo.
O anjo arrebatado pairou sob a escuridão e ficou a observando a moça deitada no canto do logradouro. Aproximou-se e sussurrou com hálito candente no ouvido da mulher provocando a perturbação do isolamento.
Encontrava-se perdida pelas ruas da cidade. Ela repartia sua moradia com pedaços de carniça a sua volta. Os animais que moravam na sua mesma condição, vez ou outra, iam alimentar-se dos restos das carniças que rondavam o seu corpo esquecido. Era quase um cadáver de tão esquálida.
Seu corpo apático e bruto ignorava o purgatório. Não reagia a aflição.
Naquela noite porque era domingo sua carne brandiu, seus restos mortais ainda estavam intensos. Uma ventania desmantelava a sua penugem. Provou o frescor afagando a volúpia. Porque era domingo e domingo era dia do vento gritar seu nome: “Domingas” sentiu o arrebatamento do ar invadindo sua vulva. O anjo com hálito quente começou a enfiar sua língua molhada no ouvido da moça perdida. Ela ensopou. Sua boca entreabriu, começando a espumar. Aquela ocorrência era uma espécie de convulsão deleitosa. O anjo começou a tocá-la vagarosamente acalorando todas as suas partes. Seus pelos arrepiavam excitados. Virou-se de bruços, oferecendo seu ânus. Os animais que rondavam a escuridão dos cantos da cidade pararam espantados com tamanho estupor. Maravilharam-se. Os bichos uivavam, miavam e latiam. Os seus sexos dilataram. O anjo atiçado abriu suas asas e pôs-se a entranhar profundo no traseiro da moça. Ela começou a gritar freneticamente: “Eu sou filha do pai, ah se eu soubesse!”
Os bichos que circulavam próximo a mulher aproximaram-se porque sentiram o cheiro forte que alastrava a carniça que os alimentavam. Mas naquele dia era carniça suculenta. Ah tempos Domingas não banhava sua vulva. Exalava um perfume forte que amimavam os animalejos. Ferozmente começaram a atracar-se disputando a carniça. A moça deleitou-se agonizando. O anjo tentou defendê-la dos bichos mas, um cão ferino destroçou com ligeireza decepando os membros do anjo. Ele desabou endurecido no chão. A moça entrou num transe, era somente ela e o seu corpo. Fremia. Sentiu o seu corpo pela primeira vez porque era Domingo e domingo era o dia do seu nome. Ela gozou expurgando todo xixi guardado. Os cachorros animados balançavam seus rabos lambendo o mijo e penetrando Domingas. Porque era domingo, arreganhou a boca escancarando apenas um dente, gargalhando espantada de contentamento. E sem saber a quem gritar, agradeceu o seu regozijo a atmosfera ocasionando uma trepidação em seu espaço: “Domingas”. Do buraco causado pelo tremor uma santa saiu coberta por um véu chorando lágrimas de sangue. A santa aproximou-se da cena e carregou o anjo. A mulher perdida entorpeceu extasiada naquele momento. O anjo acordou abrindo suas asas enormes e voou carregando a santa em seu colo. Lá no alto voltaram seus olhos para Domingas, enfeitiçados soltaram um ar de néctar ditoso e a abençoaram a moça esquecida.