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terça-feira, 10 de março de 2009

Branca De Neve


Branca de Neve

Eu era a branca de neve, ela era a domadora de leão. Estávamos sob situação de perigo provocador: o desejo dilacerador do leão e a neve que derretia de mim, afogando o bicho inundado pelo pântano. O mato abria-se fundo, escuro desconhecido. Inundava com força de enxurrada. O leão debatia-se feito bicho perdido assustado.
O bicho raivoso com o sangue latejante nas têmporas instalava-se dentro da domadora. Fugiu. Ele tinha grade, quebrou-a sob impulso desordenado. Queria escapar do perigo provocador. A domadora tentava dominá-lo, estava enfurecido, queria devorar a branca da neve. Eu derretia, deixando a polpa faiscante e luzidia aberta tremulando ao olhar cortante do leão. Entre as pernas brancas de neve, o pântano escorria pegajoso, cobrindo-me até os pés, com o corpo palpitante suavemente ofegava respirando. A domadora apavorava-se, tentando controlar o bicho raivoso. Usou estratégias paralisantes, teorizou, controlou, racionalizou, embaralhada, perdia, desesperando-se. O leão, embriagado pela fúria inundada do pântano, aumentava o seu ardor, temendo a morte. O cheiro rio do pântano exalava entre as narinas do leão, atormentando seus sentidos violentos. O leão possuía desejo furioso, tinha sede, tinha água, queria beber, mas duvidava, não sabia nadar. O suco derramado, viscoso incolor, cobria o matagal que derretia. O bicho enfurecido, cheio de sede, queria beber o líquido, secar. A domadora segurava a fera sobre chicotes de racionalidade, seu desejo crepitante. Prendia-o. Amordaçava. O desejo contido do leão era maior, vencia a luta dominadora.
Eu, sem lutar com a força da natureza, empalidecia rendendo-me ao leão, estava consternada pelo desejo, sabia que ia me afogar, não tinha como nadar. Entreguei-me. Afundei. Com as pernas entreabertas, tentei boiar, deixei-me levar pela onda do líquido. O leão desesperado foi coberto pelo fluido viscoso da neve, branca de neve. Dentro do pântano, o leão engoliu água ardente que era inflamada pelo fogo que acendia nossos corpos. Com a língua perdida e calor nas têmporas, sugava o líquido buscando sobrevivência, atrapalhava-se, não sabia como se salvar do perigo, já havia afogado. Lambeu, bebeu, sugou. Eu sussurrava mortificada, recebia com desejo ansioso a língua-socorro do leão-perigo. Sem saber como parar o rio corrente, que transbordava entre as nossas pernas, o leão, com fervor, aumentou sua boca, colocando todo o líquido do pântano até a goela. Eu gemia, espasmava e murmurava ar agitado, perdendo o fôlego, debruçada sob a língua que sugava o pântano. A água que os cobria começou a jorrar mais forte dentro da boca enorme do bicho e a estalar. Uma montanha rosada com aspecto de flor foi tomada de água, inchando-se, dilatando, respondendo ao desejo de natureza mexida. Perdido, sem mais hesitar, entregou-se, metendo a boca ferozmente na coisa rosada. Eu gritei exaltada. Buscando ar, segurei o bicho raivoso entre minhas pernas brancas, sufocando a juba grande. O leão sugou fortemente a enxurrada que vazava entre seus dentes, eu o segurava. Instintivamente, o bicho feroz abocanhou o perigo devorando-me com toda velocidade, enfiou toda sua pata entre as pernas brancas e traiçoeiramente, mordeu, comeu-me. Debati-me gemendo mortificada. Agora violentado pelo desejo perigoso, com o sangue zumbido e o calor aumentando, escorrendo suor pela cara, sua boca espumando desejo excitado, empalideceu, gemeu num constante crescente debatendo-se. Engoliu a coisa branca viscosa. E com fúria veloz possuído de alegria corajosa, urrou violentamente demarcando o seu território salvador.

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