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quarta-feira, 11 de março de 2009

Yemanja e Oxossi

Yemanja e Oxossi

Eu estava sentada e os meus pés não alcançavam o chão. Absorta em meus pensamentos escutava o mistério da ocasião. O céu permanecia repleto de sol, do alto eu avistava o braço do mar carregando barquinhos recheados de flores avivadas que se tornavam pequenos pela distância do terraço. Saborear a beirada do abismo é de um encanto intenso. As polpas das minhas nádegas encostavam-se no cimento abrasador do lajedo envelhecido daquele prédio, experimentando um quentinho protetor. Eu ficava agitando minha razão achincalhando a brisa aguda que desordenava o meu cabelo, desorganizando minhas idéias. O terraço daquele edifício inflamava o sigilo particular de um afeto adocicado, alojado por ocorrências desastrosas. Ela usava uma sapatilha colorida. Sentou-se ao meu lado, não éramos amigas por um limite tênue, quem sabe, desconhecimento das possibilidades. Meus pés abandonados á ausência de um plano, balançavam-se embalando canção sincera. Ficamos contemplando aquela vastidão de oceano. A menina que usava uma sapatilha colorida ajeitava-se desordenadamente segurando seus cabelos que eram embaralhados pela ventania. O segredo reprimido daquela provável afeição abafava as demonstrações soltas. O ar fogoso brincava com os nossos cabelos. Era faceto assisti aquela liberdade de ternura sincera por um acanhado segundo. O sol estava alentado. O braço da maré que abrigava os barquinhos abriu-se fazendo os pequeninos nadarem entregando as oferendas que carregavam para a rainha do mar. Era dois de fevereiro. Permanecemos sentadas envolvidas do terraço, do mar e dos barquinhos. A menina de sapatilhas coloridas invadiu a quietude do tempo dissolvendo em palavras derramadas a transparência da imaginável amizade: “Os meus orixás são Yemanja e oxóssi e os seus? ” .Naquele instante desvendei a placidez do apego de sermos amigas ocultas. Tínhamos algo muito forte semelhante. “Yemanja e oxossi também”. Sorrimos com embaraço e poesia porque lá no encovado sentimento sabíamos que éramos atrativos de afinidades caladas, mesmo que ainda não tivéssemos experimentado as tais das possibilidades. Ensaiei a minha primeira frase: “Deixe os seus cabelos soltos é natural abandonar o vento e deixar desmantelar nossa juba”. Os barquinhos soltaram fogos afetados saindo flores coloridas de dentro dos rojões. As flores confundiram o ar deixando-o com uma coloração encantada, pairando sob as nossas cabeças despeças. Eu levantei os meus braços e alcancei a flor que tinha cor branca e azul. Apanhei a florzinha intimamente e por alegria sortida ela estava grávida de uma semente. Pensei em um nascimento. Entreguei à semente a menina da sapatilha colorida e aspirei ao principio de um vasto carinho de amizade, só não sei se ela percebeu o afeto infantil.

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