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quarta-feira, 11 de março de 2009

Quarto Escuro

Quarto Escuro

Entrou correndo no quarto escuro. O pequeno espaço ficava no fundo de sua casa num lugar desprestigiado, onde não passeava o vento. O cubículo não tinha teto. Mesmo sem cobertura, a lua naquele dia não apareceu e as estrelas foram tomadas pelo cinza das nuvens. O céu estava carregado sob a cabeça do menino preto. Ele tinha a responsabilidade de banhar os cinco cachorros que moravam quase ao seu lado. Recebia uma quantia mínima que mal dava para sobreviver. O menino era preto. Apenas seus olhos esbugalhados pelo contorno branco clareavam a visão da menina cheia de objetos.
Ela foi entrando com hostilidade de menina dura, criada sem amor pela secura de seus pais. Talvez ela fosse tão seca pelo fato de nunca ter experimentado o amor. Era histérica e estridente. Seus gritos tentavam preencher o vazio de sua casa. Seus pais que não tinha tempo para ela, regavam-na de objetos. A casa era tão mobiliada que nem dava espaço para que seus familiares se cruzassem.
A porta do quarto escuro estava entreaberta. Ela invadiu com silêncio espantado. O menino preto, deitado em sua cama levantou assustado.
Ficaram se olhando durante algum tempo. A escuridão protegia-os. Seus sexos estavam contidos. Parecia doer. Na escuridão do quarto, só se ouviam as respirações arfantes. A menina cheia de objetos, com hostilidade e secura, aproximou-se do negrinho. As nuvens cinza tornavam o céu fechado e incompreensível, igual ao menino preto. Ele a encarava com olhar assombrado. Com aflição, a menina começou a espernear. Não aprendeu a falar. Só sabia se comunicar aos berros. Tinha todos os objetos. E aquela noite desejou aquele menino-peça também. Aquela falta de claridade entre ambos a enraivecia. O menino ficou exaltado e começou a correr pelo pequeno espaço. A menina estonteada ensaiou as primeiras palavras. A frase saia sufocada e estrídula: “Estou podre”. Ele paralisou ouvindo a roupa do corpo da menina, que era rasgada com ligeireza. Ela abriu as pernas e começou a se tocar. O odor invadiu o quarto. Tinha o cheiro de ostra e maresia. Ela repetia: “Estou podre”. O menino preto começou a se morder. Naquela escuridão, o choro engasgado do menino começou a povoar o quarto. Seu sexo estava enlevado. Com urgência precipitada ele avançou para cima da menina. Arrancou o short e segurou forte o seu pênis. Com alegria acelerada encaixou suas partes dentro do odor que ardia. Como cão célere, enfiou enterrando o roxo. As nuvens começaram a se mover e ficarem esparsas, a lua acendeu escancarando o mistério cinza do céu. A luz entrava no quarto do menino preto. Fazia tempo que ele não conhecia a limpidez da noite. Seus corpos nus e suados reluziam o brilho da claridade que um dia foi perdido na noite. Sem saber como falar o que sentiam, apenas se amaram. Ficaram enlaçados melados pelo desejo. Entorpeceram. A noite passou e os cachorros começaram a latir. Era a hora do menino se levantar e assumir suas responsabilidades porque ele era o menino preto. E a menina cheia de objetos voltou para casa. Aos berros, com seus cabelos desmantelados, correu até seus pais e pela primeira vez os abraçaram dando um bom dia escancarando os dentes.

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