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segunda-feira, 16 de março de 2009

Uma Casinha Dentro do Vazio

"Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande... Seria tão bom, como já foi"(Adélia Prado)

“ UMA CASINHA DENTRO DO VAZIO “


Era uma casinha de madeira.O queimor do sol esquentava o volante do meu carro. A casinha pequena de madeira ficava dentro de um vazio. A estrada estava pouco movimentada. A tarde o sol queimava o meu rosto dentro do carro.
Eu ali sentado fitava no cantinho da estrada o rostinho da menina de vestido rasgado. Ela era ruiva , seu cabelo misturava-se com a claridade do sol, seu rostinho era avermelhado. Ela destoava da imagem da casinha no meio do nada. A menina de vestido rasgado tinha um olhar curioso.
Eu estava a mais de uma hora parado esperando o socorro do guincho que havia me prometido chegar em 30 minutos no máximo.O sol queimava o meu relógio marcando o tempo que eu olhava a menininha do vestido rasgado, o tempo parecia correr sem demora.
A menininha estava sentada, parecia um improviso de cadeira, uma tábua em cima de um monte de tijolos. Ela segurava entre os seus braços uma boneca de plástico velha. O vestido da boneca era de noiva.
O meu celular , graças á Deus, estava dando linha normalmente :"Essas operadoras não servem para nada”. A menininha abraçava a sua bonequinha vestida de noiva , beijando-a inúmeras vezes. Ela sussurrava baixinho. Eu não conseguia ouvir o que ela queria dizer para a bonequinha.
Meu celular tocou pela quarta vez. Era o guincho me avisando que dentro de 5 minutos eles chegariam com o socorro. Meu carro estava apenas com um pneu de socorro. Eu vinha a 120km/h , estava atrasado para a reunião do meu trabalho. Eu já á quase duas horas esperando o guincho que não chegava comecei a senti uma sede insuportável. A única coisa que me fazia não mandar o guincho se fuder era a menininha do vestido rasgado e também a necessidade que eu tinha deles.
Meu carro estourou o pneu num buraco ,”Isso não é nem mais um buraco..uma cratera”.”Não sei o que o governo faz com o dinheiro...As estradas todas esburacadas...”.
Meu celular tocou, era o meu chefe.A menininha não havia me percebido. Sua casinha ficava com pouca visibilidade. De cima para baixo. A casa ficava num montinho de barro. Não era tão alto. Eu estava num cantinho da estrada. A menininha não tirava o olho da bonequinha vestida de noiva .
O telefone tocou. Eram 17:30.O sol daqui a pouquinho iria embora.No telefone meu chefe já veio com aquela voz chata me cobrando uma presença, que eu não tinha o que fazer. Não gostava do meu chefe. Ele gostava de me chacualhar, acho que era porque ele era gordo e mal casado. Meu chefe gostava de falar que homem de corpo malhado era coisa de veado. Acho que era inveja.
O telefono tocou era o guincho. Eles disseram que já estavam a caminho..."Que cara de pau...quer dizer que antes eles nem haviam se mobilizado”.
O sol começou a diminuir. Eram 17:50, embrei que eu tinha uma garrafa de água na mala do carro.
A menininha que estava sentada o tempo todo levantou-se e começou a dançar e a rodar. Ela sorria e gargalhava alto.
O guincho chegou na mesma hora que o meu celular tocou E A MENININHA ME VIU.
Eram 18:40.Uma única labareda iluminava a menininha que agora me fitava. Desliguei meu celular. Mandei o guincho se fuder, coloquei meu pé no acelerador lentamente e fui me afastando da casinha de madeira no meio do nada. Ela deu um adeus e gritou com uma voz grossa e rouca:"VOLTE PARA CASAR UM DIA COMIGO”. Eu nunca mais esqueci a menininha do vestido rasgado.
Voltei para casa. Abri uma cerveja gelada e comecei a dançar e a cantar a música que a menininha do vestido rasgado havia entoado.

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